Deixe a Catalunha em paz

Infelizmente polícia em qualquer lugar do mundo, no terreno democrático ou de exceção, foi feita para dar porrada. É a formação, o espírito e a natureza do policial, senão ele ia ser franciscano. Mas, o que vimos na Catalunha foi de dar revolta. Os governos continuam a impor política e filosofia na base da repressão. Coisa que sempre aconteceu, e bem antes do Império Romano, e que vai continuar até o futuro sócio psicótico evocado por Blade Runner.

Jolivaldo Freitas

Mas o plebiscito que o governo espanhol tentou acabar à base de cassetete, bala de borracha, puxão de cabelo e chute nas costelas até dos velhos, aconteceu mesmo de forma precária e a Catalunha - que é a área mais rica e industrializada da Espanha e não quer dividir quinhão algum - registrou vitória do SIM. Pior: abriu-se uma fissura muito maior na sua relação frente ao governo centralizado na velha Madri, que sabe será difícil manter-se estruturada economicamente e politicamente perante a União Europeia. A Catalunha é a joia da coroa.

Para o rei da Espanha foi uma traição. Para o governo central foi algo anticonstitucional. O governo não acreditou. Mas veio uma declaração de independência unilateral. Mas os catalãs separatistas iniciam uma outra ofensiva que é a campanha que passará para o mundo uma Catalunha vítima de sufoco político e econômico, que implicaria numa questão de direitos humanos. Com isso talvez consiga a simpatia da Europa. Os catalãs irão mostrar a Espanha como um país que odeia a democracia, totalitarista, opressor e autoritário. O Kosovo fez assim em 2008 e teve sua independência unilateral aprovada. Se o governo central espanhol cair na armadilha de enviar tropas e isolar a Catalunha, aí é que a situação complica mais ainda para seu lado. Vou lembrar que no caso do Kosovo, a Espanha não reconhece até hoje sua soberania.

Mas o que preocupa, é, em se declarando independente, o que poderemos esperar do futuro próximo da Espanha. Uma nova guerra civil? Um novo tempo de terrorismo? Vou lembrar também que em abril a organização separatista armada basca ETA fez o seu desarmamento. Isso depois de 40 anos de violência na luta pela independência da região.  A ONU se disse abalada pelas cenas de violência oferecida pela Polícia Civil espanhola. Mas a ONU nada pode fazer a não ser lamentar. Receia que uma separação na Catalunha vire uma onda separatista desde a Europa ao Oriente Médio, seguindo em direção ao Extremo Oriente. Separar é difícil, vide a situação o Kosovo, Somalilândia, Ossétia do Sul que ainda não foram aceitos. Em toda a Europa somam-se 37 grupos separatistas do Sudão do Sul ao País de Gales.

A Catalunha - cuja história é de mil anos - responde por 20 por cento do PIB nacional. Em 2006 uma lei deu o status de "Nação" aos catalãs. Em 2010 a Corte Constitucional da Espanha cassou. Se o catalão não quer ser espanhol, que deixem. Que deixem todos, no mundo todo. Cada qual com sua bandeira. Cada um sabe de si.

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey