"Este filme se baseia na memória de minha infância, dois anos antes de ser decretada a Lei Marcial nas Filipinas, em 1972. Foi uma época catastrófica. Foi o começo do período mais negro de nossa história. Tudo que está no filme vem de minha memória, todos os personagens são reais, eu apenas mudei os nomes", assim Lav Dia sintetiza seu filme.
Feito em preto e branco, lento e com câmera móvel e filmado em tempo real, o filme chega a 5 horas e trinta e oito minutos de projeção. O júri teve direito a uma pausa para tomar água, comer um sanduíche e ir ao banheiro, confessou seu presidente, o italiano Gianfranco Rosi.
No seu encontro com a crítica, Lav Diaz, que já esteve na Mostra de Cinema de São Paulo, falou da memória da catástrofe que se abateu sobre seu país, dividida em quatro período sucessivos: a colonização espanhola que destruiu a cultura da região; a colonização americana; os quatro anos de ocupação japonesa e os trinta anos de Lei Marcial do ditador Ferdinando Marcos.
"Meu trabalho é uma reivindicação do nosso passado e de nossas origens", acentua Lav Diaz.
O filme, que muitos críticos dividiram em duas ou três partes para ver em dias diferentes, relembra fatos sangrentos ocorridos num afastado lugarejo filipino, quando milícias agiam, matavam gado e promoviam massacres, enquanto o ditador Marcos decretava uma lei de exceção que perdurou por trinta anos.
Lav Diaz é considerado o mais importante cineasta atual das Filipinas e é conhecido por sua obstinada busca da verdade, com especial atenção ao período da ditadura, quando se cometiam crimes e torturas, humilhando-se o povo.
Evolução de uma Família Filipina, outro filme de Lav Diaz, contando as lutas internas de uma família, no período da ditadura, é ainda mais longo, são onze horas de projeção.
Houve uma certa decepção dentro da crítica, porque, na verdade, a maioria tinha sido conquistada pelo filme russo sobre a corrupção dentro da Rússia, e esperava a premiação de O Louco, de Yuri Bykov. Mas o filme ganhou apenas o prêmio de Melhor Ator.
Rui Martins
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