A questão por quê Barack Obama foi escolhido Laureado do Prémio Nobel da Paz este ano pode ser respondida com outra: Por quê o George W. Bush nem sequer foi considerado para tal? A resposta em ambos os casos é mais que evidente, embora muito mais complexa do que ser nomeado ou não.
Tem a ver intrinsecamente com a comunidade internacional enviar um sinal claro aos Estados Unidos da América que existe a vontade de receber o filho pródigo, mas com condições. Isso todo o mundo, e Washington também, sabe.
E o facto que existem condições é humilhante para a nação que se elegeu como campeã da causa dos livres e bastião da liberdade durante dois séculos, é um sinal que estes preceitos nobres foram insultados tão profundamente por uma sucessão de administrações que lamberam as botas do clique de elitistas corporativos capitalistas que tinham a goela de Washington nas suas mãos e que controlavam a política externa dos EUA.
A personificação desta violação da boa vontade dos Fundadores da Nação foi o regime de Bush, com a sua panóplia de demónios e diabos e a escória da humanidade, tão visível no Afeganistão e o desastre de política externa chamado Iraque, onde foram escolhidos como alvos militares estruturas civis, onde contratos bilionários de reconstrução foram atribuídos a amigos da Casa Branca, sem concurso, claro, e onde grupos de terroristas foram pagos para não atacar os boys (cujas famílias ganhavam o Green Card se fossem mortos em combate).
Por mau que tenha sido o regime de Bush e por muito que a arrogância e idiotice de George W. Bush tenha chocado os corações e mentes da comunidade internacional pensante no seu discurso de despedida (uma tentativa ridícula de auto-justificação), tem-se de lembrar que o regime de Bush seguiu o regime de Clinton, aquele que lançou um ataque selvático e ilegal contra o povo sérvio, porque Hillbilly Billy Clinton tinha problemas com vestidos e esperma no Oval Office e porque não tinha tido relações sexuais com uma estagiária, aquele cuja Primeira Dama não saíra de um avião sob fogo inimigo na Bósnia (pois, um pormenor que é tão fácil esquecer. Porém uma coisa é esquecer-se daquilo que aconteceu; é bem mais complicado quando se trata de lembrar-se de coisas que nunca aconteceram, e voilà! Lá está ela como Secretário de Estado). Poucos falam dos biliões oferecidos a Mohammad Omar em 1998 para dar o aval ao gasoduto através do seu país, sua recusa e consequente declaração ao jornal paquistanês Dawn na altura, que os EUA iria procurar um pretexto para invadir, três anos antes do ocorrido. Por isso não foi só o regime de Bush.
Com Presidente Obama vem um compromisso de ouvir e falar. E nove meses depois, é evidente que ele pratica o que prega, que é sincero, que é inteligente, que é um Presidente de quem o povo dos EUA pode orgulhar-se. E sendo inteligente, ele sabe que foi eleito pelo povo dos Estados Unidos da América e não os cidadãos do mundo e que seu mandato começa e acaba nas fronteiras da sua nação.
E é devido à sua atitude de baixo perfil, diligente, respeitoso, educado, que foi-lhe atribuído, e merecidamente, o Prémio Nobel da Paz, não necessariamente por aquilo que fez mas sim por aquilo que promete fazer. O primeiro sinal foi a sua intenção de fechar o campo de concentração na Baia de Guantanamo, o segundo foi o abandono do programa absurdo do Escudo Anti-Mísseis (como se a República Popular Democrática da Coreia iria enviar um míssil para o ocidente, por cima da Ásia, Europa, e o Atlântico, quando seria bem mais fácil aniquilar a costa ocidental dos EUA enviando um míssil por cima do Pacífico).
È verdade que há questões de política externa importantíssimas que requerem uma gestão hábil por peritos, não xenófobos. Uma implosão no Iraque, entidade geo-política preservada pelo Presidente Saddam Hussein, que conseguiu afastar Al-Qaeda, tornado cada vez mais provável pelo acto de chacina liderado pelos EUA, poderia ter consequências catastróficas para a região. Uma política menos inteligente no Afeganistão poderia encher Al-Qaeda com confiança e as consequências seriam sentidas nas ruas da Europa e os EUA durante décadas.
Depois, o epicentro, a aranha no meio da teia, Israel o país que se recusa obedecer as normas da lei internacional, que continua a roubar território que nunca lhe pertenceu e construir colónias, que guarda arsenais nucleares, enquanto à República Islâmica do Irão é negado o direito de ter um programa pacífico nuclear.
São tempos conturbados que precisam de ser abordados com inteligência e por uma comunidade internacional unida, que se baseia em valores comuns e uma abordagem multilateral. Os que disseram que todos os americanos são gordos e estúpidos foram e são tão estúpidos como o seu alvo, além de se manifestarem como racistas e ignorantes. É um sinal muito positivo que os Estados Unidos da América conseguiu produzir o melhor de si, personificado no seu Presidente.
E é por esta razão que Barack Obama recebe, e merecidamente, o Prémio Nobel de Paz de esperança colectiva para o futuro. Bem-vindos de volta.
Timothy BANCROFT-HINCHEY
PRAVDA.Ru
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