Os desastrosos oito anos da administração Bush e a esmagadora reprovação de seu governo ajudaram a eleger Barack Obama, e o racismo subjetivo que corrói a alma americana não teve, como se temia, o condão de subtrair ao democrata uma vitória estrondosa.
Chegou a circular por Manhattan um pôster com os traços étnicos de Obama e McCain trocados, e a legenda Let the issue be the issue (deixe a questão importante prevalecer), conclamando os eleitores a pôr de lado a questão étnica.
Em que pesem a vertiginosa evolução da ciência e da tecnologia, boa parte dos espíritos ainda se prende a dogmas e valoriza falsas questões, ao ponto de ainda hoje ser noticiado com destaque quando uma mulher ou negro ascendem a determinadas posições na sociedade.
Assim, as manchetes desta quarta-feira estampam o inédito: O primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Nenhum outro homem, até onde a memória alcança, terá sido depositário de tantas e tamanhas expectativas, ou, por outro lado, do ceticismo dos adeptos da tese da supremacia de uma etnia ou gênero sobre outro.
Estes não notaram a elegância na atitude sóbria de Obama quando disse, a respeito de comentários na mídia sobre uma filha da candidata republicana a vice Sarah Palin, que não se deve falar da família dos candidatos, e dos filhos, menos ainda. Tampouco lhes impressionou o distanciamento olímpico que o democrata manteve das baixarias de campanha.
Todavia, as expectativas dos que se atêm às questões substantivas são de que o presidente eleito saberá conduzir o país enganam-se aqueles que vaticinam o declínio da influência americana através de caminhos não mais fáceis, dado o legado de Bush, porém mais seguros.
A volta da legalidade, com a revogação da Lei Patriótica e o fechamento da prisão de Guantánamo, são algumas das primeiras providências que se esperam do novo presidente, seguidas da recuperação do Estado, que Bush praticamente terceirizou, e da retirada do Iraque que terá de ser cuidadosamente ponderada -, cuja ocupação custa US$ 250 mil por minuto, segundo o Congresso americano.
Muitas promessas de campanha foram exageradas, como a de tornar os EUA independentes do petróleo importado dentro de dez anos, pois o cardápio de desafios atuais já é bastante fausto: duas guerras, a questão climática, a grave situação econômica do país, a má qualidade da educação, as incertezas sobre o Paquistão. Além disso, ele terá de ser mais flexível nas questões de comércio exterior, vencendo grupos de interesses.
Quem acompanhou os processos eleitoral e pré-eleitoral pôde perceber a sua abertura ao contraditório, a sua vivacidade e substância, em que pese a pouca experiência.
À arrogância e truculência de George Bush e seus falcões sucederão o sangue-frio, a inteligência de Obama e a noção adequada da posição da América no mundo, bem demonstrada em seus livros.
Luiz Leitão [email protected]
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