O oráculo do mercado reconheceu publicamente que (durante o período em que comandou o Banco Central dos Estados Unidos) errou, "parcialmente", ao defender a auto-regulamentação do mercado como o caminho mais curto para o desenvolvimento.
Por Rodrigo Vianna (*)
"Aqueles de nós, eu inclusive, que esperávamos
que o interesse próprio das instituições de
empréstimo protegesse os acionistas,
estão em estado de descrença e choque"
(Alan Greenspan, ex-presidente do FED)
Greenspan em estado de choque? Oh, que dó...
A frase foi dita por ele, durante depoimento ao Congresso estadounidense, na última quinta-feira.
O oráculo do mercado reconheceu publicamente que (durante o período em que comandou o Banco Central dos Estados Unidos) errou, "parcialmente", ao defender a auto-regulamentação do mercado como o caminho mais curto para o desenvolvimento.
Greenspan, ao menos, reconhece o erro "parcial". Mas, e os filhotes de Greenspan no Brasil?
Repare, leitor, que o ex-presidente do FED (fede?) fala também em "descrença", como se o neo-liberalismo fosse uma espécie de religião - hoje colocada em questão. Durante 20 anos, como jornalista, fui obrigado a entrevistar "consultores" brasileiros que reproduziram por aqui as idéias do oráculo de Washngton. O Brasil precisa fazer a "lição de casa", repetiam os "especialistas" como se fosse uma oração.
Nenhum desses consultores parece estar em estado de choque...
"Lição de casa". Chego a sentir engulhos quando ouço esta expressão. É expressão sobretudo, de subserviência, como se o Brasil estivesse ainda na escola primária, e devesse aprender os ensinamentos de Greenspan e outros mestres.
A consultoria mais ouvida do Brasil (sintomaticamente, fica na rua Estados Unidos, em São Paulo) tem como um dos sócios um "especialista" que, quando esteve no governo Sarney, ajudou a levar a inflação a 80% ao mês. Hoje, ganha dinheiro, pregando aos brasileiros: é preciso fazer a "lição de casa", desregulamentar, privatizar, liberalizar tudo...
Como jornalista, reconheço que errei ("parcialmente", é verdade) por entrevistar tantas vezes a turma da "lição de casa". Digo "parcialmente" porque tentei equilibrar o jogo, eu juro, ouvindo também Paulo Nogueira Batista, Júlio Gomes (do IEDI) e outros poucos economistas que não se contaminaram pelas teses do professor Greenspan.
O Brasil, felizmente, não foi um bom aluno de Greenspan. Apesar do esforço de nossos "consultores", fizemos só metade da lição de casa (principalmente, no governo FHC; Lula não teve coragem e/ou condições políticas de mudar o sistema, mas ao menos estancou o processo). Do contrário, teríamos vendido tudo - como a Argentina de Menem. Não teríamos BNDES, Banco do Brasil e Caixa - instrumentos decisivos para enfrentar a crise que se agiganta.
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(*) Texto publicado originalmente no site www.rodrigovianna.com.br e reproduzido no site do COFECON com permissão do autor.
www.cofecon.org.br
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