A XVII Cimeira Ibero-Americana ocorrida o Chile foi marcada pelo "caso Chávez", que aconteceu a apenas uma hora do fim dos trabalhos. O primeiro-ministro espanhol tentou defender o seu antecessor dos insultos proferidos pelo presidente venezuelano.
José Luis Zapatero. Não sou eu quem está próximo do ex-presidente [José María] Aznar, em termos ideológicos, mas Aznar foi eleito pelos espanhóis e exijo, exijo...
Hugo Chávez. Diga-lhe que respeite... Diga o mesmo a ele.
José Luis Zapatero. Exijo esse respeito, por uma razão, além disso...
Hugo Chávez. Diga-lhe o mesmo, Presidente....
José Luis Zapatero. Certamente.
Hugo Chávez. Diga-lhe o mesmo....
Juan Carlos. Porque não te calas?
Michelle Bachelet. Por favor, não entremos em diálogo. Teve tempo para expor a sua posição. Presidente, termine.
Hugo Chávez. Pode ser espanhol o presidente Aznar, mas é um fascista e é um...
José Luis Zapatero. Presidente Hugo Chavéz, creio que há uma coisa essencial. É que para respeitar e para ser respeitado devemos procurar não cair no insulto.
Chávez. O Governo da Venezuela reserva-se no direito de responder a qualquer agressão, em qualquer lugar, em qualquer espaço e em qualquer tom.
O editorial do jornal El País de ontem é muito interessante: se, por um lado, o editorialista considera que o Rei Juan Carlos esteve no seu papel", pois Chávez "ultrapassou a linha do tolerável numa relação entre países soberanos", a verdade é que aproveita para criticar as intervenções públicas de Aznar, que têm "contribuído para deteriorar a convivência interna e criar graves e desnecessárias dificuldades para Espanha no plano internacional".
De seguida, refere que "a monarquia está a adquirir nos últimos tempos, e por razões diversas, um protagonismo que não facilita o imprescindível trabalho de moderação que está inscrita no sistema constitucional" e que "à vista do grau de crispação que tem atingido a vida política em Espanha é mais necessária do que nunca".
E tem esta frase notável: "Aos partidos corresponde uma maior responsabilidade para facilitar o regresso do sossego às instituições, incluindo à chefia do Estado." E conclui, sem rodeios: "A figura do rei não deveria estar por mais tempo no primeiro plano político." Mas, à excepção, do El Periódico e do El País, os restantes jornais aplaudiram sem reservas a atitude do monarca. O ABC fazia manchete: "O rei não se cala."
Segundo Diário de Notícias, quanto aos atritos, houve vários, para além dos insultos de Chávez ao antigo presidente do Governo espanhol, José María Aznar. O Presidente venezuelano passou pelos menos dois dias a classificar Lula da Silva como "magnata do petróleo" e a fazer elogios ao socialismo revolucionário. Pelo meio, Ortega atirou-se à Unión Fenosa, depois de Chávez também já ter acusado as empresas espanholas de terem tido um papel nocivo no golpe na Venezuela, em 2002.
Até bilateralmente houve problemas.
A Argentina e o Uruguai arrastaram uma polémica sobre as operações da empresa de celulose Botnia, o que chegou ao ponto do Governo argentino já classificar o seu vizinho como "agressor". A questão dos reféns das FARC na Colômbia levou a uma reunião de duas horas entre Chávez e Álvaro Uribe e a pretensão da Bolívia de ter acesso ao mar levou a uma petição logo apoiada pela "esquerda da cimeira". A Argentina conseguiu ver aprovado um comunicado especial sobre a questão da soberania das ilhas Malvinas.
O outro comunicado especial foi sobre a necessidade de pôr fim ao bloqueio económico dos EUA a Cuba. Portugal acabou por ter uma participação positiva na cimeira. Em 2009, será o País anfitrião.|
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