"Não darei indicação de voto. Entendo que os franceses que votaram em mim são em consciência cidadãos livres". Com esta frase, o centrista François Bayrou colocou, ontem, um ponto final na expectativa criada em torno do destino dos sufrágios averbados no domingo passado.
Nicolas Sarkozy e Ségolène Royal voltam a bater-se pela conquista dos 6,8 milhões de votantes em Bayrou, chave que abrirá as portas do Eliseu a um dos dois candidatos apurados para a segunda volta das presidenciais. Quanto à sua opção de voto pessoal, Bayrou foi evasivo "Neste momento, não sei o que farei. Mas começo a saber o que não farei".
Mas Bayrou foi mais longe e anunciou a formação de um novo partido, o "partido democrata", que poderá vir a jogar papel decisivo nas eleições legislativas marcadas para Junho.
Segundo Bayrou, os candidatos apurados para a segunda volta apresentam "graves inconvenientes", embora não os coloque "num mesmo plano".
A intervenção de Bayrou, no entanto, foi mais dura para o candidato da Direita, ao evocar as "semelhanças" que detectou entre Nicolas Sarkozy e Silvio Berlusconi. "Nicolas Sarkozy, dada a sua proximidade com o meio dos negócios e as potências mediáticas, a par com o seu gosto pela intimidação e a ameaça, vai concentrar poderes como nunca os teve", disse o terceiro candidato mais votado na primeira volta das presidenciais francesas. "Pelo seu temperamento e os temas que escolheu para agitar, arrisca agravar as rupturas do tecido social, nomeadamente, ao conduzir uma política de vantagens para os mais ricos", acusou.
Quanto à candidata da Esquerda, Bayrou disse que "Ségolène Royal parece mais bem intencionada em matéria de democracia, mais atenta em relação ao tecido social", apesar de rejeitar o "seu programa que multiplica as intervenções do Estado" e os apoios que ela recebeu da esquerda radical.
Esta aparente simpatia poderá explicar-se pelo debate que Ségolène propôs e Bayrou aceitou, para dirimirem as diferenças óbvias em sede de programa económico. Curiosamente, ao fim da tarde de ontem, Sarkozy recusou implicitamente um debate semelhante com o líder centrista, ao sublinhar que o "debate contraditório" já estava marcado e que, em circunstâncias normais, "quando há uma final o terceiro classificado faz outra coisa".
Face a estes dois "riscos", Bayrou propõe a constituição de uma "força nova" que ele próprio pretende encarnar com o seu novo "partido democrata". "Este partido apresentará candidatos a todas as eleições futuras, e portanto às eleições legislativas (de Junho), para representar os franceses que querem uma política nova, independente, livre na sua expressão", disse o responsável centrista.
Para o porta-voz do Partido Socialista, Julien Dray, as "coisas movem-se" após o acordo dado por Bayrou a um diálogo com Ségolène, na procura de convergências entre socialistas e centristas.
Nicolas Sarkozy já fez saber que não esperava "nada" das declarações de François Bayrou, depois de ter denunciado o "regateio" em curso, segundo ele, entre a Esquerda e o Centro. As últimas sondagens dão-no como vencedor, à excepção de um inquérito anteontem divulgado que assinala uma aproximação entre os dois finalistas (51-49).
O confronto entre Nicolas Sarkozy e Ségolène Royal culminará com um debate televisivo a 2 de Maio, que poderá ser decisivo.
A candidata socialista às presidenciais francesas, Ségolène Royal, disse, anteontem à noite, que a UDF do centrista François Bayrou terá ministros no seu Governo se for alcançado um acordo nesse sentido, crucial para a segunda volta do próximo dia 6 de Maio. "Se nos juntarmos tirarei todas as consequências para a maioria presidencial", disse a candidata da Esquerda numa conversa informal com os jornalistas em Montpellier. "Isso significa incluir ministros da UDF", perguntou um jornalista.
"Com certeza, é isso, uma maioria presidencial", respondeu Ségolène Royal, que falava após uma acção de campanha em que afirmou que reuniria num governo seu "uma equipa de homens e mulheres escolhidos pelo único critério da sua competência, a sua entrega e o seu sentido de moral pública". Em simultâneo, o candidato da Direita, Nicolas Sarkozy, numa acção de campanha perto de Roeun, esticava a mão aos seus "amigos" centristas, declarando que eram "bem vindos", e fustigava a Esquerda, que acusou de "negociar alianças".
Os 18,57% de votos obtidos por Bayrou na primeira volta são os mais desejados pelos finalistas das eleições presidenciais francesas.
Fonte: Agências, Jornal de Noticias
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