Hoje começa a primeira visita de Estado do Presidente da República à Espanha, que se prolonga até 28 de Setembro. Durante a visita, Cavaco Silva vai estar acompanhado pelos ministros da Economia, Manuel Pinho, Negócios Estrangeiros, Luís Amado, Ambiente, Francisco Nunes Correia, e Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago.
O convite do monarca espanhol foi feito em Março, quando Cavaco Silva tomou posse como Presidente da República, e transmitido pelo Príncipe das Astúrias, Felipe de Borbón, que assistiu às cerimónias.
À chegada à capital espanhola, no final da manhã, o chefe do Estado português e a mulher, Maria Cavaco Silva, são recebidos no Palácio Real do Pardo pelos Reis de Espanha, com quem manterá um breve encontro depois de participar nas habituais cerimónias militares. O Chefe de Estado e os monarcas espanhóis voltam a encontrar-se ao início da tarde no Palácio Real da Zarzuela, onde almoçam já na companhia dos príncipes das Astúrias, Felipe de Borbón e Letícia. Após o almoço, Cavaco Silva regressa ao Palácio do Pardo, onde habitualmente ficam alojados os Chefes de Estado estrangeiros que visitam Espanha, recebendo o primeiro-ministro espanhol, José Luís Rodriguez Zapatero. Ao final da tarde, o Presidente da República é recebido na residência do embaixador português em Madrid, José Moraes Cabral. O primeiro dia da visita termina com um banquete em honra do Chefe de Estado português no Palácio Real de Madrid, oferecido pelos Reis de Espanha, durante o qual estão previstas intervenções de Cavaco Silva e Juan Carlos.
Sem nunca o mencionar, Cavaco Silva pretende afastar uma vez mais o "fantasma do iberismo", ou o temor da colonização económica castelhana, que renasce sempre que se fala de um novo e grande investimento espanhol em solo nacional, comunicou Diário de Notícias.
Mas ao mesmo tempo quer demonstrar que a dependência económica entre os dois países é incontornável. "Nada do que se passa em Portugal pode ser ignorado em Espanha", disse aos jornalistas Nunes Liberato, chefe da Casa Civil do Presidente da República, no encontro preparatório da viagem. E Portugal também se pode sofrer caso a economia espanhola tenha algum deslize.
Cavaco quer ainda projectar casos portugueses de sucesso. Primeiro, em Madrid, passa pela Caixa Geral de Depósitos e chama a atenção para a importância das instituições financeiras no apoio às empresas exportadoras. Segue-se o Centro de Astrobiologia, um dos 14 mundiais com ligação à NASA, fruto de um parceria entre os dois países. A INAPA, detentora de um centro de distribuição de "excelência tecnológica", cujo software é totalmente desenvolvido em Portugal é outro local de paragem. Nas Astúrias desloca-se à Central Termoeléctrica de Aboño da Hidrocantábrico, o maior investimento luso em Espanha.
A Presidência da República faz questão de sublinhar a "relação especial" que Cavaco tem com o rei Juan Carlos, desde os seus mandatos em São Bento. O Presidente tem mesmo orgulho de ter sido um dos obreiros das cimeiras luso-espanholas, lançadas em 1986, quando Felipe González era presidente do Governo espanhol.
Curiosa coincidência esta que leva novamente Cavaco à ribalta política, do alto do Palácio de Belém, numa altura em que o Executivo espanhol é comandado por um socialista, José Luis Zapatero. O político que se demarcou da política externa portuguesa, então conduzida por Durão Barroso, e que assumiu o poder com a garantia, cumprida, de retirar os soldados espanhóis do Iraque: "O que prometi foi tirar a Espanha da foto dos Açores e colocá-la na luta contra a fome."
Na ronda de contactos políticos - que também inclui um encontro com o líder do PP e da oposição, Mariano Rajoy - o Chefe do Estado português incluirá, por certo, um dos dossiês fortes da presidência portuguesa da União Europeia: o futuro do Tratado Constitucional da UE. Sobretudo no que toca as matérias da chamada "cooperação reforçada", entre elas as de segurança e defesa dos Estados membros.
Matérias que dizem muito à Espanha, vítima do terrorismo - Cavaco vai homenagear, de forma "singela", as vítimas do 11 de Março (matéria escaldante nas Cortes espa- nholas )- e de um grave problema de imigração proveniente do Norte de África, onde a "fome" que tanto preocupa Zapatero impele milhares para a Europa. Um problema que pode vir a afectar Portugal e que merece a atenção do inquilino de Belém.
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