Raduan e Unamuno
Dino Sani, como jogador de futebol, foi campeão mundial em 1958, na Suécia, e como treinador do Internacional se destacou mais pela obviedade de suas declarações do que pelos seus conhecimentos teóricos sobre o futebol. Duas preciosidades que ele dividiu com os jornalistas: "futebol é uma caixinha de surpresas" e "no futebol, a gente ganha, empata ou perde".
Por que me lembrei disso agora? Por que, como o futebol segundo Dino Sani, o Facebook é também uma "caixinha de surpresas".
Mesmo que a gente selecione os amigos pelas afinidades políticas e intelectuais, às vezes somos surpreendidos.
O Paulo Waimberg é meu amigo e meu surpreendeu. Nos conhecemos há muito tempo, desde as peladas nos campos da PUC, até os dias de hoje, quando o acompanho e sei das suas grandes qualidades como romancista e poeta.
Na sua página,vi com surpresa, ele se solidarizando com alguém que havia se aliado ao coro dos que criticaram Raduan Nassar por discursar contra o governo golpista do Temer na cerimônia de entrega do prêmio Camões.
O argumento é sempre o mesmo: não era a hora, nem o momento adequado.
Sempre é hora, Paulo, de denunciar a injustiça, ainda mais quando ela tem um componente político que afeta milhões de pessoas.
Um pouco para me exibir, mas também para justificar minha posição, resolvi copiar partes do discurso de Miguel Unamuno, Reitor da Universidade de Salamanca, em resposta ao General Milla Astray, fundador da Legião Estrangeira, em 1936, feito também numa solenidade formal, quando talvez não fosse nem a hora, nem o momento adequado.
Ainda bem que Unamuno também não respeitou essa convenção e falou assim:
"Agora mesmo ouvi um grito necrófilo e insensato, 'Viva a morte'. Eu devo dizer-lhes que considero este esdrúxulo paradoxo repelente. O General Astray é um aleijado, que isso seja dito sem nenhum sentido pejorativo. Ele é um inválido de guerra. Cervantes também era. Infelizmente há demasiados aleijados na Espanha agora. Entristece-me pensar que o general MillánAstray venha ditar o padrão da psicologia de massas. Um aleijado que não possui a grandeza espiritual de um Cervantes acostuma-se a buscar alívio produzindo mutilados em volta dele."
"Estamos no templo do intelecto. E nele eu sou o sumo sacerdote. São vocês que profanam esses espaços sagrados. Vocês vão vencer, por que têm mais que o necessário de força bruta. Mas vocês não convencerão. Pois para convencer é preciso persuadir. E para persuadir vocês necessitarão o que não têm: razão e justiça na luta. Eu considero fútil exortá-los para que pensem na Espanha"
Então, para manter a coerência # Fora Temer.
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS
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