Por Zeca Marques
Os portugueses nem se lembravam mais da última vez em que haviam perdido uma partida nas eliminatórias européias. Os Tugas estavam invictos há quase 12 anos a última derrota havia sido em 5 de outubro de 1996 diante da Ucrânia, que venceu por 2 a 1 em Kiev.
Esse resultado foi decisivo para que Portugal ficasse de fora do Mundial da França, em 1998. Pois é um passado sombrio e sem glórias que voltou a assombrar a Seleção Portuguesa, derrotada inexplicavelmente pela Dinamarca por 3 a 2, de virada, no último dia 10 de setembro em Lisboa.
O mais doloroso para o torcedor luso é saber que sua equipe jogou um belo futebol e que poderia ter goleado os dinamarqueses em casa. Se isso tivesse acontecido, Portugal estaria tranqüilo na liderança do Grupo 1, com seis pontos em dois jogos. O mais incrível é saber que, até os 42 minutos do segundo tempo, os Tugas venciam por 2 a 1, após Deco (o melhor em campo) ter anotado de pênalti o gol que daria os três pontos à sua seleção dois minutos após a Dinamarca ter feito 1 a 1.
O empate em 2 a 2, aos 45 minutos, já era algo inesperado para os próprios nórdicos. Bastou para isso a falha lamentável do goleiro Quim após uma cobrança do escanteio problema crônico de Portugal, como ficou flagrante na derrota para a Grécia na final da Eurocopa-2004. Mas a origem desse escanteio que deu o gol de empate para a Dinamarca mostrou o descontrole da zaga portuguesa, que bateu cabeça de forma infantil. A virada dinamarquesa só veio coroar o descontrole dos jogadores portugueses: o zagueiro Pepe, podendo dominar a bola próximo à linha de fundo, resolveu chutá-la para o lado; pois foi desse arremesso lateral saiu o gol da vitória.
A derrota portuguesa acirrou mais uma vez a discussão sobre o comando técnico da seleção nacional e houve algumas vozes saudosas a clamar pela volta do ex-treinador, o brasileiro Luiz Felipe Scolari. Contra a Dinamarca, Portugal sofreu três gols em nove minutos, jogando em casa. Será que isso aconteceria com Felipão no banco? Dificilmente. No ano passado, também atuando em casa, Portugal cedeu o empate no final dos encontros contra a Polônia (2 a 2) e a Sérvia (1 a 1). A diferença é que a equipe não perdeu e nem levou três gols em tão pouco tempo.
As capas dos jornais esportivos portugueses, no dia seguinte à derrota para a Dinamarca, dão o que pensar. A Bola colocou em manchete À antiga portuguesa Perigosa derrota em Alvalade. O Jogo estampou Magia negra Erros infantis deitaram tudo a perder. Já o Record foi mais sarcástico, fazendo um trocadilho com o nome de Nossa Senhora do Caravaggio, devota de Scolari: Há coisas do Caravaggio! Exibição de gala, falhanços incríveis e 3 golos sofridos nos 9 minutos finais.
Carlos Queiroz é um técnico com grandes capacidades. Conhece futebol, conhece esquemas de jogo e privilegia treinamentos táticos. Mas lhe falta algo imprescindível para comandar uma seleção como a portuguesa algo que sobrava em Felipão: carisma e espírito de liderança. O resultado, até agora, é preocupante: Portugal perdeu em casa para um dos adversários na briga pela vaga para o Mundial de 2010. Está agora apenas em 4º lugar do Grupo 1. A próxima partida, no dia 11 de outubro, será fora de casa contra a Suécia, outra adversária na luta pelo primeiro lugar da chave. Os portugueses não querem, de forma alguma, voltar ao tempo das calculadoras, em que era preciso fazer contas para tentar e fracassar as classificações para os campeonatos mundiais e europeus.
Habitados a tal ponto pela saudade, os portugueses renunciaram a defini-la. Da saudade fizeram uma espécie de enigma, essência de seu sentimento de existência, a ponto de a transformarem num mito.
(Eduardo Lourenço, Mitologia da Saudade, Companhia das Letras)
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