Alessandro Pereira, Vivian Figueiredo e Erionaldo da Silva, familiares de Jean Charles de Menezes, travam, há mais de dois anos, uma luta desigual contra o Estado britânico, em busca de justiça para os assassinos de seu primo brasileiro de 27 anos, alegadamente confundido com um terrorista pela polícia britânica, a Scotland Yard, em 21 de julho de 2005, no metrô de Londres.
Jean Charles foi morto pelas costas, dentro de um vagão na estação de Stockwell; não tinha armas, não reagiu; nem sequer o mandaram parar. Os bravos homens da Scot simplesmente o fuzilaram sumariamente.
Assim foram descritos os fatos pela promotora Clare Montgomery no julgamento da Polícia Metropolitana, dia primeiro de outubro de 2007: ele foi agarrado por um oficial da vigilância e empurrado de volta ao seu assento. Dois policiais armados se debruçaram sobre Ivor (codinome do oficial), encostaram suas pistolas Glock 9 mm na cabeça de Charles e atiraram. Ele foi atingido sete vezes, e morreu imediatamente.
Os homens que o mataram não foram a julgamento porque a promotoria decidira que não havia provas suficientes para incriminá-los. Foram sete tiros na cabeça de um homem inocente, desarmado, e eles dizem isso... Os que defendem a ação da polícia argumentam que um homem- bomba deve ser atingido na cabeça para não ter tempo de acionar o dispositivo. Mas, se ele era tão suspeito assim, por que não foi abordado na rua, ao invés de ter sido seguido na rua, terem-no deixado embarcar em dois ônibus e, finalmente, no vagão do metrô?
A promotora disse que uma série de erros da polícia levou à morte do brasileiro. Os policiais não foram julgados, mas apenas a instituição, o que frustra enormemente os parentes de Jean Charles. O veredicto será dado dentro de seis meses, e, em caso de condenação da instituição, os familiares irão receber uma indenização. Por tudo o que eles têm dito e defendido, o que buscam incansavelmente está muito além disso, é a punição dos que o mataram.
Para nós, brasileiros, acostumados à secular indiferença do Estado frente a um desfile praticamente diário de iniqüidades, a história soa familiar e não deveria causar espanto, mas o caso Jean Charles mostra a impotência de quem luta contra corporações, públicas ou privadas, aqui ou no exterior. Nem mesmo o governo brasileiro protestou com a veemência que a situação exigia; preferiu contemporizar. As reações cumpriram o figurino de praxe: representantes do governo britânico vieram ao Brasil conversar com os pais de Menezes; depois, passado algum tempo e relegados os fatos a um conveniente distanciamento no tempo, ficou tudo por isto mesmo. Ou quase. Não fosse a tenaz determinação de seus primos, talvez nem sequer a polícia estivesse sendo julgada.
Esta luta desbalanceada em favor do Poder Público mostra que a união das pessoas é fundamental para se modificar este estado de coisas; cada vez que se engolem esquálidas desculpas baseadas em sofismas como erros, os que cometem tais ações deletérias, ou simplesmente se omitem, sentem-se fortalecidos e estimulados a exorbitar de seus poderes ou atribuições, e a sociedade sai perdendo.
A brava atitude dos Menezes deve ser louvada e demonstra que, por menores que sejam os resultados, não se deve ter medo de enfrentar os poderosos e buscar a verdade quando sordidamente alguém tenta escondê-la. A firme convicção, muitas vezes, é tudo o que se tem, e tudo o que se precisa ter para levar às últimas conseqüências o que não deve jamais ser relevado.
Luiz Leitão
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