Milton Lourenço (*)
Não é de hoje que a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), como autoridade portuária, tem respondido com lentidão aos desafios que o crescimento da movimentação de cargas impõe ao Porto de Santos. Desta vez, porém, parece que a resposta veio a tempo, com a adoção pela empresa estatal de um esquema de credenciamento de pátios fora da área do porto, com o objetivo de estabelecer um ritmo adequado à chegada dos veículos ao local das operações.
Hoje, o Porto de Santos conta com apenas 700 vagas em seus terminais privados e mais 300 de propriedade da Codesp, que são exploradas por sindicatos de caminhoneiros. Com o crescimento previsto de 6% na movimentação de cargas em relação a 2005 e uma projeção de se chegar a 76,5 milhões de toneladas até dezembro, a sensação é que o Porto pode cair num estágio de saturação à época do pico das safras agrícolas.
Como se sabe, por experiências anteriores, nesse período, mais de 13 mil veículos chegam carregados à Baixada Santista por dia, levando uma carreta a esperar mais de quatro horas para chegar ao costado do navio, na melhor das hipóteses, ou até a esperar por vários dias nas áreas internas do porto ou em áreas urbanas próximas.
Para enfrentar esse desafio, a Codesp pretende abrir mais 12,1 mil vagas distribuídas por oito empresas. Uma delas, a Ecopátio Logística, está capacitada para oferecer 3,5 mil vagas em Cubatão. Segundo cálculos da Codesp, será possível oferecer vagas até para 40 mil veículos, número suficiente para enfrentar o problema nos próximos anos. Esses pátios, com área mínima de 50 mil metros quadrados, deverão oferecer infra-estrutura aos caminhoneiros, desde vestiário e lanchonete a balança e sistema de comunicação.
Agora, o que se espera é que a Codesp e os operadores portuários saibam estabelecer um cronograma para que o acesso desses caminhões à faixa do cais seja feito sem atropelos. Para isso, espera-se que seja implantado um controle geral informatizado que regule o fluxo dos veículos em direção ao cais. Até porque a conclusão das obras do trecho Sul do Rodoanel, que vai tirar o fluxo de carretas da Região Metropolitana da Capital, criará um corredor com o Sistema Anchieta-Imigrantes, facilitando ainda mais o acesso ao Porto.
Se essa questão, aparentemente, pode ser resolvida, sem envolver somas milionárias, o mesmo não se pode dizer de outras que ameaçam o funcionamento do Porto. Uma delas é a insuficiência de terminais, que vem retendo e atrasando o embarque de cargas, provocando prejuízos estimados em milhões de dólares. Além do custo da carga parada, as empresas brasileiras são multadas por não cumprirem o prazo de entrega e acabam por perder os clientes estrangeiros.
Para piorar, em razão da greve dos auditores fiscais, ocorrida entre maio e julho, que levou as operações, praticamente, a parar, os terminais de Santos continuam quase lotados, com cargas que esperam há dois meses para embarcar. Isso tem provocado também um efeito dominó que vem afetando os portos de Paranaguá (PR) e Rio Grande (RS). Como custam a deixar Santos, os navios acabam, muitas vezes, por não encontrar vaga naqueles portos e optam por cancelar a escala, causando prejuízos à economia nacional.
Diante desse quadro, seria inadiável colocar em execução as ações previstas pela Codesp para superar os gargalos que ameaçam o Porto, como a dragagem de aprofundamento do estuário, a construção do prédio do Despacha-Rápido e a implantação da Avenida Perimetral na Margem Direita, além de intervenções pontuais no sistema viário do porto. Mas algumas dessas ações ainda se encontram em estudos ou em fase de licitação ou dependendo de análises pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
As parcerias público-privadas (PPP), que seriam de fundamental importância para agilizar a construção de obras de infra-estrutura, como se alegou à época de sua criação,infelizmente, até agora, não têm funcionado. Provavelmente em função disso, a construção de novos berços de atracação bem como o projeto Barnabé-Bagres continuam no papel.
Por aí se vê que estamos numa corrida contra o tempo, que, a continuar assim, vamos perder. Afinal, se o anúncio do início dessas obras fosse feito hoje, já estaríamos atrasados.
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(*) Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo (www.fiorde.com.br). E-mail: [email protected]
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