Com a tradução brasileira, em 2011, da versão editada nos Estados Unidos da América (EUA) com o mesmo nome (A Ética da Autenticidade), de The Malaise of Modernity (1992) de Charles Taylor, filósofo canadense, fiz uma releitura desta obra, que reporto neste artigo.
Pedro Augusto Pinho*
Taylor ficou mais conhecido fora das fronteiras canadenses, onde teve militância política socialdemocrática e conservadora, e angloamericanas pela obra, de 1989, As Fontes do Self.
Na obra ora em questão, Taylor enumera três fatores de desconforto da modernidade: o individualismo, a razão instrumental e a consequência destes para a vida política.
O primeiro - individualismo - decorre da responsabilidade do indivíduo vivendo no regime democrático.
Na escravidão ou na sujeição colonial, as pessoas estavam "fixadas em lugar determinado", desempenhavam papéis pré definidos, em um estrato imutável onde era "quase impensável se desviar". Qualquer passo de liberdade era severamente reprimido, quer pela representação do divino quer pelo representante do poder terreno. Diz Taylor: "a liberdade moderna surgiu pelo descrédito de tais ordens".
E, ao conquistarmos esta liberdade, assumimos o "desconforto" da responsabilidade e, em alguns casos, a ambivalência em sentimentos e comportamentos livres. Este fenômeno psicológico ou sociopsicológico ganha dimensão maior com a ascensão da burguesia (século XVIII) que vai a cada conquista econômica, social, tecnológica se revestindo de novos contornos. Exemplo: ao optar por programas ou projetos que, claramente, são opostos à construção da cidadania, à liberdade do século XXI, escolhendo o chamado "voto conservador", esta pessoa, na verdade, está fugindo da liberdade, do individualismo responsável. E nesta fuga, evitando autoflagelar-se, apresentará as desculpas da "sociedade permissiva", da "escola partidária", do ridículo "que sempre foi assim", quando não de uma pretensa e inexistente isenção.
O segundo desencanto é denominado "razão instrumental".
Este mal estar pode ser resumido à aplicação, ampla, geral e irrestrita, de padrões do custo-benefício às ações humanas. O mundo é matéria prima, insumo dos projetos, efêmero bem que será aproveitado pela tecnologia e pela ciência. Daí resulta a deformidade da sacralização do saber formal, o mais mesquinho ato de discriminar o semelhante. E neste aspecto o ensino como aplicado em nossa sociedade e a comunicação de massa executam a permanente doutrinação que faz a todos, opressores e oprimidos, servos da mitologia do saber acadêmico.
As críticas ficam sempre centradas nos comportamentos individuais. Não são questionadas as instituições, os institutos, os poderes, como se houvesse neles em toda circunstância "isenção". Tudo se passa como estas criações da sociedade pairassem num limbo, sem desejos, sem objetivos, sem favores.
E, por fim, como consequência na vida política do "individualismo" e da "razão instrumental" surge o terceiro desconforto.
Sherlock Holmes diz a Dr. Watson que se busca o criminoso com a resposta à expressão latina: cui bono, ou seja, a quem interessa o crime.
Neste mundo de contradições, onde o corte de investimentos é apresentado como gerador de empregos, deveríamos perguntar: a quem interessa a fraude que cotidianamente vemos, lemos e ouvimos nos veículos de comunicação de massa, em especial a televisão, o de mais ampla e profunda influência? E sabendo que não há o limbo da isenção, o que faz pessoas, que são avaliadas pela correção das decisões, assumirem com desfaçatez sofismas ridículos para justificarem o benefício a um indivíduo ou a um grupo?
Estará a burguesia tão idiotizada que vote contra sua própria liberdade? Pela repressão que, como toda repressão, acaba perseguindo os próprios repressores?
Tenho escrito que o sistema financeiro internacional, a banca, que melhor do que qualquer outro sistema, soube explorar a tecnologia da informação e da comunicação, entranhou as instituições e poderes por todo mundo. Passou a guiar, com verdadeiros e pouco onerosos prepostos, governos nacionais e organizações multinacionais, impondo sua nova forma colonial, com o apoio dos burgueses e mesmo dos desvalidos midiatizados.
O desejo do atraso se demonstra em eleições, referendos incompreensíveis para grande maioria das populações. Lamentavelmente o Brasil não é exceção.
*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado
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