Nos últimos tempos, tem sido visível a perda de competitividade dos produtos manufaturados brasileiros, o que vem prejudicando a inserção do País no mercado internacional, hoje limitada a 1,3% de tudo o que se compra e vende no mundo. Não é preciso dizer o que isso acarreta para o País em termos de eliminação de postos de trabalho e queda de arrecadação de tributos.
Milton Lourenço (*)
É verdade que as exportações de insumos e matérias-primas mostraram um considerável crescimento até 2011, contribuindo para que os déficits comerciais não fossem tão desastrosos. Mas isso não basta. É preciso que o Brasil se torne um grande país exportador de produtos industrializados, já que hoje ocupa apenas a 22ª posição no ranking das nações exportadoras, o que é incompatível com o tamanho de seu Produto Interno Bruto (PIB) e de sua economia, a sétima do mundo.
Dados da Associação de Comércio Exterior (AEB) mostram que a participação industrial na pauta de exportações, que chegou a 59% em 2000, caiu para 32% em 2012. E que o número de empresas exportadoras teve uma redução de 10% no mesmo período, enquanto o número de empresas importadoras cresceu 50%, passando de 28.300 para 42.500. É de assinalar que o número de empresas exportadoras está ao redor de 21 mil, menos da metade do número de importadoras.
Diante disso, o País está na iminência de registrar déficit comercial, o que não ocorre desde 2000. Portanto, é preciso que o governo e as entidades representativas da indústria exportadora se reúnam para discutir e definir algumas estratégias para enfrentar o chamado custo Brasil, responsável em grande parte por essa situação incômoda.
É certo que não se vai acabar com o custo Brasil de um dia para o outro, pois envolve questões de difícil solução e de longo prazo, como a deficiente infraestrutura logística do País. Mas há questões igualmente relevantes para a formação do custo Brasil que podem ser atacadas, como a redução da excessiva burocracia e a defasagem cambial em conseqüência da sobrevalorização do real.
É preciso ao mesmo tempo articular uma nova estratégia negociadora para o Brasil, que fortaleça a sua inserção internacional, o que só poderá ocorrer com a assinatura de acordos comerciais com mercados-chave como Estados Unidos e União Europeia. É verdade que o governo brasileiro acaba de anunciar que em um ano sairá o tão debatido acordo Mercosul-União Europeia, mas teme-se que esse seja mais um daqueles anúncios que só têm o objetivo de ganhar tempo e iludir a plateia.
Enquanto isso, Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Cingapura, EUA, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Peru e Vietnã se dedicam à construção de uma ampla negociação comercial, conhecida como Trans Pacific Partnership (TPP), um pacto que deverá estar concluído até 2014, alcançando 40% da economia mundial. Mas não se sabe de nenhuma movimentação para um acordo Mercosul-TPP.
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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected]. Site: www.fiorde.com.br.
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