Barack Obama anunciou programa para gerar mais de 600 mil empregos, sendo 135 mil na educação. Seriam investidos US$ 787 bilhões por agências federais em obras de parques nacionais, aeroportos, estradas, escolas e centros médicos para veteranos.
Parece impressionante, mas há que avaliar o plano nos contextos da depressão econômica, eufemisticamente chamada de recessão, e do caos financeiro.
Adriano Benayon * 12.06.2009
Barack Obama anunciou programa para gerar mais de 600 mil empregos, sendo 135 mil na educação. Seriam investidos US$ 787 bilhões por agências federais em obras de parques nacionais, aeroportos, estradas, escolas e centros médicos para veteranos.
Parece impressionante, mas há que avaliar o plano nos contextos da depressão econômica, eufemisticamente chamada de recessão, e do caos financeiro.
Este é alimentado: 1) pelos derivativos e outros títulos podres, que não param de surgir; 2) pelas desbragadas emissões monetárias; 3) pela dívida federal que ascende a US$ 15,5 trilhões este ano.
A depressão tende a ser mais profunda que a dos anos 30, a menos que: 1) se reedite nos EUA algo parecido com a 2ª Guerra Mundial, quando se mobilizaram 14 milhões de homens; ou, 2) a menos que se realize a desconcentração do sistema financeiro e da indústria e que o Estado use seu direito de criar moeda para financiar nova infra-estrutura e estruturas tecnológica e industrial para produzir bens e serviços capazes de atender ao bem-estar da sociedade em seu conjunto.
A primeira possibilidade é a tradicional e perversa. A segunda implica erguer estruturas que, diferentemente das atuais, não sejam moldadas de acordo com os desígnios das oligarquias financeiras, notadamente as anglo-americanas.
Isso não faz parte dos planos dos czares da economia de Obama, todos ex-executivos de bancos e de empresas financeiras com culpas no colapso financeiro e favorecidas de forma inacreditável pelo governo dos EUA. É o caso do Secretário do Tesouro (T. Geithner) e do Presidente do Conselho Econômico da Casa Branca (L. Summers), sem falar nos diretores do Federal Reserve, banco central controlado por banqueiros privados.
Em suma, a administração de Obama é mais uma que diz estar enfrentando o colapso, enquanto despeja trilhões de dólares em benefício dos que o causaram.
Compare-se a cifra do pacote de empregos com a já despendida nos socorros a bancos submersos em títulos e créditos irrecuperáveis. Não é que US$ 787 bilhões sejam pouca coisa. Entretanto, não passam de 5,6% dos US$ 14 trilhões já despejados para socorrer a irresponsabilidade financeira, quantia equivalente ao PIB dos EUA.
Além de fortalecer a concentração financeira em detrimento da produção e do bem-estar do povo, essas despesas são as principais responsáveis pelo déficit público recorde, de US$ 2 trilhões, e por astronômicas emissões de títulos do Tesouro e de moeda. Isso somente ainda não gerou a hiperinflação devido à depressão econômica.
Então, não há como sair desta em desencadear aquela. Pior, com a atual estrutura da economia, a simples atenuação da depressão poderá acender o pavio da inflação. Com a dívida federal de US$ 15,5 trilhões, a qual cresceu US$ 3 trilhões de 2008 para 2009, e mais o acima resumido, o dólar não tem qualquer condição objetiva de se sustentar como moeda internacional de reserva.
Ele é mantido em vida artificial mediante a agora indecisa colaboração de países como a China, que desejam livrar-se dos títulos norte-americanos, mas ainda não o fizeram, devido ao receio de precipitar a queda livre da moeda estadunidense.
Já se perderam 6 milhões de empregos desde dezembro de 2007, e o pacote dificilmente será suficiente para reduzir sequer ligeiramente a elevada taxa de desemprego, a qual, em maio último, atingiu 9,4%, a maior desde agosto de 1983.
Isso porque o investimento privado bruto (US$ 2,1 trilhões em 2008) continua caindo. Além disso, estão em declínio as despesas dos Estados, condados e cidades, as quais, em conjunto, foram 45,6% da despesa pública total em 2008. Cada vez mais endividados, os governos locais não têm como evitar a queda nos gastos suscetíveis de criar empregos.
Ademais, nenhum dos projetos federais de criação de empregos contempla investimentos suscetíveis de alterar, sequer ligeiramente, as estruturas produtivas atuais, nem promover a recuperação do peso relativo das pequenas e médias indústrias, indispensável para a geração de empregos produtivos.
Entretanto, os US$ 787 bilhões do pacote são mais que bastantes para tornar mais alarmante o déficit público, que, mesmo sem eles, já tende para mais de US$ 2 trilhões. Acarretam mais emissões de títulos e de moeda, e estas já são excessivas, em função da prioridade de manter de pé os bancos concentradores envolvidos em montanhas cada vez maiores de títulos tóxicos.
* Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de Globalização versus Desenvolvimento, editora Escrituras. [email protected]
Publicado no site da UNB, 15.06.2009; no Alerta Total, 13.06.2009; notícia no Monitor Mercantil, 15.06.2009.
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