Milton Lourenço (*)
Que o futuro dos mares e dos portos passa pelo contêiner, ninguém mais duvida. Essa caixa de aço, criada em 1956 pelo empreendedor norte-americano Malcom Purcell McLean, fundador da Sea Land, não só ocupa cada vez mais espaço nos portos e arredores, expulsando moradores para lugares mais distantes, como obriga a iniciativa privada e o poder público a investir em terminais e acessos rodoviários e ferroviários para facilitar seu armazenamento e transporte. É assim em todo o mundo.
No Hemisfério Norte, há alguns anos, já trafegam navios porta-contêineres de mais de 400 metros de comprimento e capazes de transportar o equivalente a 13.460 TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés ou cerca de seis metros). Por enquanto, navegam apenas na rota Europa-Ásia. Afinal, são poucos os portos que têm condições de recebê-los e suportá-los em termos de descarregamento de contêineres e de calado, já que exigem pelo menos 15,5 metros de profundidade.
Como concorrem com navios que estão em torno de 8 mil TEUs, oferecem grandes vantagens, pois conseguem reduzir, de maneira drástica, o custo do frete por unidade, além de gastar menos combustível e utilizar uma tripulação mínima que varia de 10 a 15 pessoas.
Diante dessa tendência irreversível, não há o que fazer, a não ser adaptar-se às pressas a esses novos tempos, pois, em breve, esses porta-contêineres serão os donos absolutos dos mares. E os portos que não puderem recebê-los estarão condenados ao sucateamento e ao atraso. É por isso que só neste ano a iniciativa privada vem investindo mais de R$ 500 milhões no porto de Santos em projetos que prevêem a criação de novos terminais e a ampliação dos atuais.
A Santos-Brasil, que administra o Tecon, o maior terminal de contêineres da América Latina, localizado na margem esquerda do porto, pretende concluir em 2009 as obras do Tecon 4, ampliando em 220 metros seu cais. Em novembro, a empresa completou 11 anos de atuação no porto de Santos, com investimentos superiores a R$ 1 bilhão. O Tecondi, no cais do Saboó, também investe com o objetivo de ampliar sua capacidade de movimentação para 700 mil TEUs. Até o começo de 2008, essa capacidade estava limitada a 250 mil TEUs. As obras incluem a expansão do terminal e a construção de mais um berço de atracação e de um pátio, além da aquisição de novos equipamentos.
Sem contar que estão em andamento obras do Terminal da Embraport, do grupo Coimex, na área continental de Santos, nos arredores da Ilha Barnabé. Com investimentos previstos de US$ 500 milhões numa área com cerca de 800 mil metros quadrados, o novo terminal contará com instalações para armazenagem e distribuição de contêineres, além de granéis líquidos. E deverá aumentar em mais de 10% a capacidade atual do porto. O objetivo é movimentar 460 mil contêineres. Mas não se tem ainda previsão de quando as obras estarão efetivamente concluídas. Talvez em 2014.
Além disso, o grupo MSC acaba de anunciar para fevereiro ou março o início da construção dos berços do Brasil Terminal Portuário (BTP), no Saboó, entre o píer da Alemoa e o Rio Lenheiro, na margem direita do porto, em área de 292 mil metros quadrados. Com isso, o porto de Santos será o primeiro do País com condições de receber navios de 9.200 TEUs.
Como se vê, os contêineres invadem todos os espaços disponíveis nos arredores dos portos. Isso quando não obrigam portos a mudar de lugar, procurando áreas onde possam ser operados na escala exigida pelo processo de internacionalização do setor. Os números mostram que, de 2002 a 2007, as operações de contêineres no Brasil cresceram 87%, o que dá a média de 17,4% por ano. Mas em Santos esse índice chegou a 106,9%, o que equivale a um crescimento de 21,3% ao ano. E país nenhum consegue aumentar sua estrutura a essa velocidade.
Hoje, o porto está em 39º lugar entre os maiores do mundo, com um total de 2,4 milhões de TEUs. Para se ter uma idéia, veja-se que Singapura, o maior do mundo, movimenta ao redor de 24,7 milhões de TEUs.
De tudo isso, o que se conclui é que nem a iniciativa privada nem o poder público podem parar de investir em infra-estrutura, a pretexto da crise financeira que teve início nos EUA e se alastrou por todo o planeta. Até porque a crise não vai durar para sempre e, quando passar, o porto que dispuser de estrutura mais adequada vai aproveitar melhor as oportunidades.
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Milton Lourenço é diretor-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP. E-mail: [email protected]
Site: www.fiorde.com.br
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