Berlim - filme alemão faz lembrar cinema da boca do lixo
O filme sensação no Festival Internacional de Cinema de Berlim, que deixou zonzos os críticos de cinema e abarrotou o imenso salão destinado às entrevistas coletivas foi A Luva Dourada, do realizador Fatih Akin. Nele há um pouco de Rogério Sganzerla com José Mojica Marins, no relato hiperrealista dos crimes do assassino em série Fritz Honka, de Hamburgo, capaz de provocar nos espectadores nojo, repulsa e aversão, junto com a impressão de vir da tela do cinema um cheiro fétido, provocado pelos cadáveres em decomposição, no sotão onde vivia Fritz Honka.
Por Rui Martins, de Berlim, convidado pelo Festival Internacional de Cinema:
O assassino atacava mulheres solitárias
O bairro de St. Pauli, em Hamburgo, nos anos 70, era uma espécie de Boca do Lixo, versão alemã, onde à noite se reunia o rebotalho ou refugo humano, desde bebados a prostitutas, jogadores de baralho, traficantes, nazistas, zombies e criminosos. Ali havia, e ainda há, um boteco ainda que era mais sórdido nos anos 70, o Luva Dourada.
Esse hiperrealismo também lembra o dinamarquês Lars von Trier. Porém Fatih Akin, com suas prostitutas obesas e desdentadas, sua decoração de bonecas no sótão maldito, seu assassino estrábico com um olho maior que o outro atrás dos óculos de lentes grossas e a ligeira corcunda do criminoso, vai bem além do Nosferatu de Murnau ou Herzog. E lembra também Frankstein. Porém, o filme de Fatih Akin não provoca medo mas sim repulsa e nojo.
Sem dúvida, alguns críticos devem ter deixado a sala de projeção para ir vomitar. Isso, porém, não significa uma rejeição do filme pela crítica, que tomou um choque mas correu imediatamente para a coletiva do realizador Fatih Akin, logo após a projeção do filme, lotando totalmente a sala.
O filme foi baseado num livro biográfico do assassino, escrito pelo alemão Heinz Strunk, digno do jornal paulista Notícias Populares da mesma época. Entre as cenas grotescas e nauseabundas, como os vermes das carnes podres de suas vítimas caindo do teto sobre os vizinhos de baixo, há o gesto de uma de suas vítimas, uma sobrevivente, de passar mostarda no pênis flácido e impotente do seu quase assassino. Menção simbólico aficionado com a preferência nacional alemã pela salsicha igualmente flácida.
Apesar do mau cheiro do sótão e da figura estranha de Fritz Hunka, a descoberta de seus crimes só ocorreu ao haver um princípio de incêndio no seu prédio, motivando um controle dos apartamentos e do sótão pelos bombeiros.
Rui Martins está em Berlim, convidado pelo Festival Internacional de Cinema
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