África: a mais carente de solidariedade
Em 2018, a África e o mundo comemoraram o centenário de Nelson Mandela; sobre suas ideias de um continente livre de qualquer discriminação, a comunidade internacional participou do desenvolvimento dessa geografia, a que mais precisa de solidariedade. Reprodução da internet
Deveria ser estranho, mas não é assim. São notícias de um mundo real e nada maravilhoso exposto a guerras e fome. É a África, o berço dos nossos antepassados e a terra sofrida a que a humanidade deve tanto
Por: Elson Concepción Pérez | [email protected]
A maioria das informações que lemos, ouvimos ou vemos relacionadas aos países da África, contém uma dose letal elevada, seja por aqueles que morrem em guerras, bombardeios no Iêmen, grupos terroristas, conflitos locais, ou aqueles que também morrem em sua «outra guerra», a da fome, as doenças, a falta de água...
Imagino esse mundo incerto pensando e implorando porque 2019 seja um ano de paz, de comida para os famintos e remédios para os doentes; um ano em que haja um investimento real que inverta a atual situação social nesses países.
Invocar um novo ano em que o Mediterrâneo se torne em mar pacífico e não em cemitério de milhares de pessoas que fogem da guerra e da miséria e vão para a rica Europa em busca de um futuro melhor, será certamente a súplica de populações inteiras.
Com esta meditação necessária, eu venho este dia do último mês de 2018 e revejo uma notícia de grande valor histórico e cultural, ignorando as bombas e mortes, e que também vem de uma nação africana: no Egito, país que une o nordeste da África com o Oriente Médio, acabam de descobrir um túmulo «único em seu tipo» que permaneceu intacto por 4.400 anos.
São as boas notícias, as que ensinam a amar e respeitar uma herança que naquela região ainda tem muito a ensinar e não podemos permitir sua destruição, nem pelo fanatismo nem pelo terrorismo.
A África, berço de muitos dos nossos antepassados, a região de inúmeros recursos, de povo nobres, não merece a realidade assustadora de que 1,4 milhão de crianças possa morrer de fome em apenas quatro de seus países: Sudão do Sul, Somália, Nigéria e Iêmen.
A Somália, por exemplo, ainda lamenta 260 mil crianças que morreram de fome em 2011 e 2012 e adverte ao mundo que, atualmente, 363 mil crianças estão gravemente desnutridas, 71 mil são casos de desnutrição aguda grave e 50 mil são pequenos à beira da morte.
Neste 2018 que culminou, talvez o Iêmen seja o exemplo mais terrível e onde o apelo mais comovente para acabar com a guerra, os atentados e a fome deve prevalecer.
A situação lá é descrita como totalmente catastrófica: portos e aeroportos em ruínas, hospitais bombardeados e centros de saúde destruídos, falta de comida, remédios e necessidades básicas. Mais de 21,2 milhões de pessoas, quase 50% são crianças e precisam de ajuda humanitária; 9,9 milhões de crianças enfrentam uma situação de insegurança alimentar; 1,3 milhão delas sofre desnutrição severa, e milhares morreram de doenças que podem ser prevenidas.
Segundo dados da FAO, o ano terminou com 224 milhões de pessoas que passam fome na África subsaariana, 12% a mais do que há 12 meses.
O mesmo aconteceu na África Ocidental, onde se registrou que dez milhões de pessoas passam fome, sendo o Níger o país mais afetado, com sete milhões, o que equivale a quase metade da população do país.
Ao tentar encontrar a razão pela qual centenas de milhares de africanos migram para a Europa, devemos ir ao raiz, à da fome, da insalubridade e dos conflitos internos, estes últimos criados a maioria das vezes por essas mesmas causas.
Segundo a Acnur, até outubro de 2018, cerca de 100 mil migrantes chegaram à Europa. Outros 2 mil morreram na tentativa de cruzar o Mediterrâneo em embarcações frágeis ou de mão de traficantes de seres humanos.
Referimo-nos a um continente que devemos conhecer, não apenas em estatísticas frias, geralmente referidas à pobreza e às doenças. É o que mais precisa da solidariedade de todos, da formação de seus próprios recursos humanos, do investimento estrangeiro, não para explorar esses povos como o poder colonial fez durante séculos, mas para que a comunidade internacional não permaneça fora de sua situação e participe de seu desenvolvimento.
No contexto:
- A Nigéria tem a maior população da África ao sul do Saara (de pessoas) e representa 18% da população total do continente.
- Apenas 24% da população rural da África Subsaariana tem acesso a melhores serviços de saneamento comparado com42% da população urbana.
- África tem 60% da população soropositiva no mundo.
Fonte: Banco Mundial.
Outros dados sobre a África:
- População: 900 milhões, 14% do total mundial.
- Cidade mais populosa: Lagos, Nigéria, com 16,9 milhões.
- Número de línguas faladas: mais de 2 mil.
- Número de muçulmanos: 358 milhões.
- Número de cristãos: 410 milhões.
- Percentagem da população com menos de 25 anos: 71%.
- Expectativa média de vida: 67 anos no norte da África e 46 anos ao sul do Saara.
- Taxas de mortalidade infantil (até à idade de um ano): 102 em cada mil nascimentos na África Subsaariana; 33 em cada mil nascimentos no norte da África.
- Taxa de alfabetização (acima de 15 anos): 60%.
- Número de refugiados: 15 milhões; 3,3 milhões fugiram de seus países de origem por causa de conflitos armados e cerca de 12 milhões estão deslocados dentro deles.
- Percentagem da população com acesso ao abastecimento de água potável: África Subsariana, 82% da população urbana, 45% rural; Norte da África, 96% da população urbana, 84% rural.
- Porcentagem da população que depende da agricultura para sobreviver: 66%.
- Desmatamento: 4,1 milhões de hectares de floresta por ano atualmente se perdem na África.
Fonte: Universidade Pablo de Olavide, Sevilha, Espanha.
http://www.patrialatina.com.br/africa-a-mais-carente-de-solidariedade/
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