Uma das grandes falácias que os meios de comunicação gostam de divulgar, que a academia ratifica dando a ela um lustro 'científico' e que as pessoas acreditam, é que o ideal do jornalismo, principalmente aquele que trata dos fatos políticos, é ou deveria ser, imparcial.
Ocorre exatamente o contrário. O jornalismo político nasceu para expressar a posição de pessoas ou grupos sociais sobre a administração da vida pública, ou seja, quais as posições políticas que devem ser apoiadas ou condenadas.
Quanto mais clara e aberta fosse essa posição, mais ético e mais digno de crédito se tornaria o veículo de comunicação portador da mensagem.
No passado, essas posições de apoio ou de crítica a um determinado grupo de poder - um governo na sua versão mais completa - eram diluídas pelas visões opostas dentro dos meios de comunicação disponíveis; pela limitação do acesso desses meios aos públicos alvos e pela possibilidade de os criticados ou apoiados - no caso o governo - usarem outros meios de impor sua vontade, in extremis, pela coerção policial.
A partir da Revolução Russa de 1917, uma grande questão, que já estava subjacente nas disputas políticas - a opção por um novo sistema econômico e social - se tornou fundamental e obscureceu todos os outros debates.
Capitalismo ou socialismo, essa foi a questão que se tornou fundamental.
O acirramento dessa disputa coincide com o desenvolvimento acentuado dos meios de comunicação, principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial (1939/1945).
O surgimento da televisão como o grande veículo de comunicação de massa e a integração mundial das redes de comunicação (a aldeia global, antecipada por Marshall Mc Luhan) vão transformar esse conjunto de comunicação, que hoje chamamos de 'A Grande Mídia', como a principal arma de guerra ideológica entre os defensores dos modelos capitalista e socialista.
A derrocada da URSS no final do século passado e a consolidação da opção pelo capitalismo, estruturado segundo os interesses dos Estados Unidos, fizeram com que a comunicação de massa e sua versão de jornalismo político se tornassem a grande arma para a preservação do sistema e a eliminação das possíveis resistências, tenham elas maior ou menor representatividade.
A cooptação dos sistemas de comunicação pelo capitalismo triunfante se tornou irreversível na medida em que eles se sofisticaram e passaram exigir altos investimentos financeiros para se tornarem eficientes.
Dentro dessa nova realidade, os enfrentamentos ao sistema, através das chamadas mídias alternativas, se tornaram a única opção, quase sempre frustradas, na luta contra o pensamento único, que na sua essência busca a preservação de uma sociedade de classes.
Então, a figura do jornalista imparcial, que "luta pela verdade acima de tudo", virou peça de museu.
Ou ele está a favor de um lado ou de outro.
Mais do que a polícia, o judiciário e o parlamento, é a mídia, controlada na sua quase totalidade pelo capitalismo devastador, que tenta eliminar qualquer resquício de inconformismo.
Os últimos dias no Brasil mostraram a sobejo como funciona o sistema.
Diante de uma disputa eleitoral, em que um candidato que não tem pejo de se apresentar com propostas fascistas, a 'Grande Mídia' se esconde atrás de uma pretensa imparcialidade, tratando desiguais como iguais e não denunciando com o vigor que deveria ter os métodos criminosos de aliciamento de eleitores que esse candidato usa.
Nesse domingo ( 28/10) estaremos voltando às urnas e uma possível vitória do Bolsonaro, o candidato da direita, dos empresários, com suas ideias tão próximas do fascismo, deverá, em grande parte, ser atribuído ao apoio ideológico que recebeu de jornalistas que sempre se apresentarem como defensores da democracia e como isentos, mas que, no final, tal como o candidato, defendem uma sociedade dividida em classes com interesses antagônicos.
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS
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