Nkrumah e a independência de Gana
Havana (Prensa Latina) Kwane Nkrumah sobressai-se entre os líderes africanos que no século XX enfrentaram determinadamente a escravatura colonial das potências europeias, luta pela qual sofreu perseguição e cárcere, e se converteu em um dirigente venerado em Gana e em todo o continente.
Quando se acercava a metade do século e depois do holocausto que significou a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Reino Unido, uma das potências vencedoras contra o fascismo alemão, se empenhava em manter seu vetusto império colonial em solo africano.
Os povos do continente tinham dado sua contribuição à vitória. Milhares de seus filhos combateram palmo a palmo junto aos soldados dos exércitos vitoriosos, mas as metrópoles europeias que reclamavam liberdades para seus povos as negavam aos africanos.
A percepção no continente era diametralmente oposta à das autoridades coloniais. Os homens que regressavam do frente traziam ideias reivindicativas e nesse contexto surgiram líderes que conduziriam a seus povos na luta pela independência.
GANA NA HISTÓRIA
No século XV, os navegantes portugueses foram os primeiros europeus a chegar a África. Alguns traficantes chegaram à costa de Gana e estabeleceram fábricas comerciais criando-se os contatos iniciais entre a população autóctone e os estrangeiros.
Quase de imediato os portugueses extraíram ouro em grandes quantidades e por isso o território recebeu o nome de Costa do Ouro. O interesse mostrado por esse metal abriria as portas a uma exploração que se prolongaria durante quase cinco séculos.
Posteriormente, os europeus puseram sua atenção no comércio de especiarias e marfim; ainda que sem deixar de lado esse negócio, inclinaram-se pela venda de escravos, mais lucrativa.
Os navegantes portugueses no século XV também tinham chegado ao Brasil, que se converteu em sua única colônia na América, onde os africanos eram vendidos aos donos de plantações agrícolas para trabalhar no sistema escravista.
Dinamarqueses, franceses, holandeses e britânicos também assentaram seus pontos comerciais, protegidos por fortins contra os rivais europeus ou as sublevações da população autóctone.
O castelo de Elmira, construído pelos portugueses, servia ao mesmo tempo de armazem de escravos à espera de seu transporte a América. Na medida em que as potências europeias estabeleciam novas colônias nesse território e no Caribe, intensificava-se o comércio de escravos.
O comércio prolongou-se durante os séculos seguintes, em que milhões de africanos -homens e mulheres- foram arrancados violentamente das áreas ocidentais do continente, num tráfico desumano e atroz.
REINO UNIDO
Em 1821, Reino Unido impôs seu poderio naval e apoderou-se de toda a costa. Duas décadas mais tarde, em 1844, subscreveu um tratado com o rei dos ashantis, a tribo que tinha resistido com mais vigor à penetração europeia. Os acordos assinados com as metrópoles eram papéis inservíveis, pois foram esboçados com total desfaçatez.
Tanto o era que uns trinta anos depois, em 1874, Londres estabeleceu formalmente ali sua colônia da Costa do Ouro e mais tarde ocupou, violando o convênio, o reino dos ashantis e impôs no norte do país o Protetorado Britânico.
A ocupação britânica reforçou a opressão colonial, tal como sucedia nas demais posses. Eram pisoteados os direitos dos nativos, que viam partir para a metrópole suas riquezas enquanto sumiam numa contínua pobreza.
Em 1922, após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), depois da derrota de Alemanha, a parte ocidental de sua colônia do Togo passou às mãos britânicas e sua administração recaiu na Costa do Ouro.
Os domínios germânicos na África foram repartidos entre Reino Unido e França, o que significou o fim da presença colonial da Alemanha no continente.
Seguiram longos anos de exploração com ênfase especial no monocultivo do cacau, sob o controle de capitais britânicos e outros europeus. O país padecia um marcado atraso econômico, educacional e sanitário, com um alto índice de mortalidade.
Essa situação provocava o descontentamento popular e, alarmados, os colonialistas admitiram, em 1946, aos africanos no governo da Costa do Ouro, ainda que sem o resultado que esperavam.
KWANE NKRUMAH
Nkrumah (1909-1972) foi o homem que sintetizou as aspirações libertarias do povo e sua posição anticolonialista era conhecida entre os grupos partidários da independência.
Em 1947, fundou o Partido Convenção Unidade da Costa do Ouro, que tinha como objetivo canalizar a luta contra o domínio do Reino Unido e conseguir para seu país uma vida política independente.
A resposta das autoridades foi mandá-lo às masmorras coloniais. Seu encarceramento provocou irados protestos. Depois, nada seria igual para a coroa britânica, obstinada em manter um sistema repudiado na África e no mundo.
Após sua prisão em 1949, Nkrumah, à frente dos elementos mais progressistas do agrupamento constituiu o Partido Popular da Convenção e iniciou uma aberta oposição ao predomínio colonial. Durante 1950 e 1951, desenvolveu-se uma intensa campanha de resistência cívica, conhecida como ação positiva.
Nkrumah foi novamente encarcerado. Seu partido lutava pela unidade nacional e a luta contra a opressão. Numerosas manifestações públicas foram duramente reprimidas pelas tropas britânicas deixando saldos elevados de vítimas.
Os colonialistas viram-se obrigados a ceder. A pressão popular forçou a celebração de eleições gerais para uma Assembleia Legislativa. Do cárcere, Nkrumah obteve o triunfo de seu Partido por significativa maioria e libertado formou o governo. Em 1952, converteu-se em primeiro-ministro.
A parte ocidental do Togo, administrada desde 1922 pela Costa de Ouro, pediu a união ao país. Quando em 1957, se obteve a independência, o Estado adotou o nome ancestral de Gana. Ao proclamar-se a República, Nkrumah foi eleito presidente. Seu legado de luta não é esquecido em seu país nem na África.
*Jornalista cubano especializado em política internacional, tem sido corresponsável em vários países africanos e é colaborador da Prensa Latina.
http://www.iranews.com.br/noticias.php?codnoticia=7662
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter