O artigo "Resista à Rússia" - "Stand up to Russia" foi-me mostrado por um amigo russo, que pediu-me para respondê-lo no PRAVDA.RU, que era citado naquela schmeckfest de inadulterado disparate. Quase poderia ter sido impresso pela Corporação Britânica de Besteiras ou escrito por aquela outra insolente mulher que obteve um Pulitzer. Max Boot, "(Membro Graduado de Estudos de Segurança Nacional no Conselho de Relações Exteriores)" é o nome do autor neste caso.
Vemos agora claramente por que a Agência de Segurança Nacional foi tão proficiente em defender o povo dos Estados Unidos no 11/9, tão proficiente, na verdade, quanto os assessores militares (risadinha) de Washington o foram na Geórgia.
Quando li esse artigo na noite passada, pensei: "Como é que se faz para entender isto?" Quero dizer, é um artigo eivado de disparates do começo ao fim, uma fieira de mentiras e insultos dirigidos à Rússia sem um mínimo de verdade da primeira letra ao ponto final.
Logo de início, o artigo começa com um deboche infantil, comparando o Exército Russo com o "Exército Vermelho", clara tentativa de pintar a moderna Federação Russa com o pincel soviético e em seguida, esperem só, sim aqui está, linha 2 do parágrafo 2, o "colapso" da União Soviética. É como aqueles documentários sobre animais onde você vê três cenas de caça fracassada e finalmente a matança, quando as leoas agarram a gazela e a arrastam para o papai. E é tão previsível que entedia.
Verdade, do mesmo modo que o Exército Vermelho, o Exército Russo tem a capacidade de arrasar nuclearmente todos os países, sejam eles da OTAN ou qualquer outra coisa, que cometam atos de agressão contra a Rússia mas, diferentemente dos Estados Unidos, a Rússia não assesta armamentos atômicos ou Urânio Empobrecido contra civis. E para informação de Max Boot, e de seus leitores, de uma vez por todas, a União Soviética não "entrou em colapso" (não houve confronto nenhum, nem mesmo qualquer impasse com equilíbrio de forças; as relações com o Ocidente estavam no seu ponto mais alto à época, com a perestroika e a glaznost a todo vapor). A dissolução voluntária da União Soviética estava prevista e inscrita em sua Constituição. Quando os membros quiseram sair, fizeram-no, e a maioria deles formou organizações alternativas e menos rígidas de comércio como a CEI, entre outras.
Quem carece de legitimidade no caso é a Geórgia, que estava obrigada, por seu ato de secessão da União, a fazer referendos na Abcásia e na Ossétia do Sul, para que os povos dessas regiões pudessem votar o grau de autonomia que desejassem ter. A Geórgia recusou-se.
Então chegamos às mais absurdas alegações que se possa imaginar. Trata-se do LA hard Times - LA Tempos difíceis, ou o quê? Parágrafo após parágrafo de mentiras, invencionices e insultos mais condizentes com uma parede de latrina, com letras escritas por algum débil mental demenciado com seu próprio excremento, do que com as páginas do que eu supunha (até a noite passada) ser uma publicação respeitável. Quero dizer, que abridor de olhos.
Max Boot chama a entrada da Rússia na Geórgia uma violação da lei internacional. Então o que tem ele a dizer a respeito do ato de agressão criminosa e do assassínio em massa dos Estados Unidos no Iraque? O que tem ele a dizer a respeito do assestamento de armas de destruição em massa em áreas civis? O que tem ele a dizer a respeito do massacre de centenas de milhares de civis inocentes? O que tem ele a dizer a respeito do campo de concentração de Guantânamo, que traz de volta reminiscências de Belsen, Treblinka e Dachau, ou dos inúmeros campos de concentração e extermínio nos Estados Bálticos?
Nada. O massacre georgiano de dois mil civis russos em uma noite, crimes de guerra com granadas lançadas em porões onde mulheres e crianças se amontoavam, tanques abrindo fogo contra senhoras idosas, crianças sendo queimadas vivas, são relegados à palavra "detalhes". Detalhes, é? Muito bem, hoje uma criança, amanhã um terrorista, então explodam o excremento dele para fora e acabem com a coisa. É isso o que o senhor ensina como Membro Graduado, Sr. Boot? É realmente esse o sentimento do povo dos Estados Unidos?
Então, neste caso, peço desculpas. Depois de ler esse artigo (há mais, comparações com Hitler - se o autor soubesse que 26 milhões de cidadãos soviéticos deram suas vidas para deter aquele lunático nazista criminoso, não seria tão insultuoso; comparações de Putin com Mussolini,depois referências às concessões que levaram à Segunda Guerra Mundial) peço desculpas a todas essas pessoas a quem sugeri que fossem tolerantes em relação aos estadunidenses, dizendo que há pessoas decentes e equilibradas ali, com opiniões sensatas.
Se esse é o tipo de vápida parlapatice que as mais famosas publicações divulgam, então imaginem o que será encontrado nos tablóides, e infiram disso que dado esse nível de sistêmicas e sistemáticas informação incorreta e desinformação, é praticamente impossível para qualquer cidadão dos Estados Unidos fazer-se idéia sensata/razoável dos eventos mundiais. Os cidadãos dos Estados Unidos estão sendo incorretamente informados, enganados e feitos de bobos por sua própria mídia.
E como pode alguém como Max Boot ser Membro Graduado de uma instituição de estudos de Segurança Nacional, bem, seria risível, se não fosse tão atemorizador. Eis aqui um homem que clama para que o Ocidente se una contra a Rússia e preconiza que os georgianos devam receber mísseis antitanques e AA.
Como se não houvesse centenas de assessores estadunidenses e israelenses na Geórgia despachados com seus pupilos, com o rabo entre as pernas. E enquanto lá estamos envolvidos no conflito, uma investigação em curso procura determinar quem perpetrou os crimes de guerra. E um punhado de mísseis teria feito diferença? Se a Rússia resolvesse usar a tática militar dos Estados Unidos, abriria uma cratera de cem metros de diâmetro no lugar de onde os mísseis estivessem sendo lançados. Além do mais, a Rússia tem suficientes mísseis de precisão para neutralizar e exterminar qualquer ameaça militar em qualquer lugar da Terra em qualquer momento dado, seja ela uma caixa de fósforos, um tanque ou uma concentração de tropas, sem sequer mandar um único soldado.
A diferença é que enquanto a imprensa russa é plena de artigos culturais, informação sobre economia e a necessidade de promover relações amigáveis com seus parceiros internacionais, os jornais dos Estados Unidos e ocidentais são controlados por uma panela fechada de controladores da vida dos outros, desesperados para não deixar que a verdade seja ventilada, e o resultado são Max Boot e seu Resista à Rússia.
Está mais para um desses comediantes que apresentam números individuais.
Timothy BANCROFT-HINCHEY
PRAVDA.Ru
Tradução Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme
[email protected] [email protected]
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter