As sucessivas crises que assistimos no Mercado Financeiro Internacional, com repercussões graves na Economia Mundial, a intervalos cada vez mais curtos, remete-nos para a alegoria que o título deste artigo reflecte. A cada crise o sistema vigente aproxima-se cada vez mais do seu colapso e como fruta madura haverá de cair e apodrecer no solo servindo como último repasto aos vermes que dele sempre se alimentaram sem atentar que só o Trabalho Produtivo gera verdadeira riqueza.
A crise no Mercado de Crédito Imobiliário dos USA, que originou de imediato uma instabilidade do Mercado Financeiro Internacional, que em Portugal, por exemplo, provocou a maior queda de valores na bolsa desde o crash de 1998, vem demonstrar quanto é imprevisível e caprichoso o funcionamento de um sistema que se baseia pura e simplesmente na especulação fiduciária, ou seja, sem o correspondente lastro na actividade económica produtiva. As empresas cotadas têm lucros, contudo o valor das suas acções depende mais do humor especulativo do sistema do que da Economia Real gerada por quem trabalha nessas empresas. Demonstra também como os mercados mais pequenos ou mais fracos estão sujeitos aos caprichos dos especuladores internacionais. Demonstra ainda que, nesta espécie de jogo do monopólio, quem mais perde é o pequeno accionista, uma vez que investe normalmente poupanças do seu trabalho, dinheiro vivo, e não apenas papéis especulativos como fazem os grandes investidores.
Bastou uma crise do sector imobiliário dos USA, para que todo o sistema mundial entrasse em turbulência. E só não entrou em ruptura porque os Bancos Centrais mais uma vez rodaram a rotativa e encheram de imediato os cofres dos bancos em risco de insolvência com dinheiro que os clientes hão-de pagar sabe-se lá como, pese embora tratar-se de moeda em papel pintado, ou seja, sem lastro em metal raro e sem correspondência na economia produtiva. Entretanto os especialistas do sistema, de um modo geral, desdobram-se em explicações e justificações numa linguagem comparável à dos adivinhos que muito falam e nada acertam Na verdade, procuram iludir a verdadeira causa do problema que enfrentamos por força da Globalização da Economia. Comportam-se como verdadeiros ilusionistas do Sistema Financeiro Mundial.
Desconfiados dessas explicações, a mais das vezes envolvidas numa linguagem hermética que só os especialistas entendem, tivemos mais uma vez que recorrer a quem sabe mais do que nós e que muito tem escrito sobre as consequências da escassez do Petróleo no Sistema Económico Ocidental, em particular dos USA. Referimo-nos a James Howard Kunstler , escritor norte-americano, autor de O Fim do Petróleo. Refere no seu artigo Ponto de Fuga, que se pode ler em http://resistir.info/ ., que neste momento, antes da crise do imobiliário, existe uma crise do Petróleo. Os países produtores consomem cada vez mais e exportam cada vez menos, enquanto as reservas diminuem a olhos vistos. Significa que os USA começam a não receber a quantidade necessária para o seu consumo crescente, com o consequente aumento natural do preço dos combustíveis. Obviamente que isto pesa na economia doméstica de milhões de norte-americanos que têm dívidas a honrar.
A Economia norte-americana, e não apenas esta, tem beneficiado, ao longo de quase um século, da abundância de combustíveis fósseis baratos, podendo dizer-se que o dito sonho americano resulta sobretudo desse facto. O automóvel de grande cilindrada e a casa com jardim e piscina na periferia dos grandes centros urbanos, a 100 e 150 km de distância, constituem os ingredientes mais expressivos desse estilo de vida, que remete para um consumo de energia à grande e à francesa. Com a deslocalização da Indústria Pesada e Ligeira para mercados de mão-de-obra barata, semi-escrava, sobretudo para a China, que se tem vindo a verificar desde meados da última década, sobrou para a indústria local aquela que não pode ser deslocalizada : a Construção Civil. Em consequência os bairros suburbanos vão ter um forte incremento. Graças a empréstimos baratos e muito acessíveis, quer para a construção, quer para compra de habitação, o cidadão médio vai cada vez mais optar por viver longe dos centros urbanos. E os bancos e outras entidades credoras não se fazem rogadas. Emprestam dinheiro sem qualquer preocupação com garantias, criando inclusive um regime de crédito à habitação especialmente dedicado às famílias de baixa solvência, os chamados subprimes , coberto por um mercado de títulos específico de alta rendibilidade e fácil conversão, os chamados hedge funds .
Porém, tão logo a conjuntura económica passou a fazer-se em baixa, sobretudo por causa do problema do Petróleo, com alta de juros e a queda dos preços no imobiliário, por falta de procura, o valor das hipotecas ficou a descoberto, logo os papéis que as titularizam deixaram de ser aliciantes para os especuladores, levando a que, quase em massa, procurassem se desembaraçar de um capital virtual que perde valor dia a dia. Tal provocou a falência de algumas entidades credoras e a escassez de dinheiro na banca mundial, sobretudo nos bancos associados ao sistema imobiliário norte-americano de alto risco.
Ninguém todavia se iluda. A crise para o sistema é sempre vantajosa, não o sendo obviamente para o cidadão comum que vive do seu Trabalho, sendo porém este que acaba por pagar de umaforma ou de outra as perdas do Sistema Financeiro Internacional. Os bancos preparam-se para aumentar as taxas de juro do crédito à habitação independentemente do BCE Banco Central Europeu aumentar ou não, de momento, o valor da taxa de referência, o Euribor, mas o fará também com certeza. Até quando continuaremos alegres crendo que a Globalização Económica, baseada na especulação financeira, sobreviverá a cada crise, que afinal engendra no seu próprio interesse, que no final trará sempre alguma vantagem para o cidadão que vive apenas do seu Trabalho, única fonte de facto de riqueza social?
Artur Rosa Teixeira
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