Prêmio russo "Minha Trilha" entregue às pessoas que em quaisquer circunstâncias nunca traem suas convicções

A uns dias do aniversário natalício do famoso ator, poeta e cantor russo Vladimir Vissotsky (1938-1980), no Centro de Televisão “Ostankino” foi realizada a cerimônia de entrega do prêmio “Minha Trilha”, instituído em 1997 pelo Ministério da Cultura da Rússia, o Comitê para os Assuntos Culturais da Prefeitura de Moscou e pela Fundação Vladimir Vissotsky.

São distinguidos com esse galardão pessoas que em quaisquer circunstâncias, mesmo nas mais extremas, nunca traem suas convicções. A conceituada distinção já havia sido outorgada à conhecida cientista Natalia Bekhtereva ,a diretora do Instituto de Cérebro, ao pediatra Leonid Rochal, conhecido como um intermediário nas conversações com terroristas chechenos, ao ator teatral Nikolai Karatchentsev, o protagonista da Rock Opera russa Junona e Avos, ao famoso jogador de hóquei sobre gelo de décadas 70-80, Aleksandr Maltsev, ao atual ministro de Emergência, Serghei Choigu, à diretora teatral Galina Voltchek e outras personalidades.

Vladimir Vissotsky (1938-80) foi uma personalidade marcante de poeta, vagabundo e rebelde inconformista na Rússia brejneviana. Conhecido sobretudo como cantor (o poema aqui traduzido é notoriamente a letra de uma canção) e escritor de terríveis sátiras políticas que circulavam em "samizdat" (nas edições escritas a mão e divulgadas sendo copiadas de xerox).

 Foi também ocasionalmente actor de cinema. Desdenhou sempre o reconhecimento no Ocidente, de patrocínios duvidosos, em favor da sua via própria de intransigente autonomia crítica. Uma espécie de Woody Guthrie soviético, a sua morte precoce ajudou a fazer dele uma figura semi-lendária.

Aticem o fogo bem alto
Quero-me dissolver, fundir totalmente;
Estirado na ponta da minha bancada
Aniquilarei finalmente minhas dúvidas.
Deixar-me-ei invadir pelo calor.
Um vaso de água fria erradicará o passado.
E a tatuagem, feita na impressionável juventude,
Esvair-se-á azulada, na esquerda do meu peito.
Aticem o fogo bem alto,
Perdi-me já para este mundo vil.
Embriagar-me-ei pois em vapor,
e rugirei alto em meu delírio.

Que fés, que demolidas florestas;
Que remorsos, que longos caminhos percorridos!
No meu peito, lado esquerdo, um perfil de Estaline,
E no lado direito a minha Marinka, a face inteira.
Entгo por minha fé indivisa,
perdi meus lustros anos de Paraíso.
paguei pela minha insensatez
Com uma vida despida de alegria.
Aticem o fogo bem alto,
Perdi-me já para este mundo vil.
Embriagar-me-ei pois em vapor,
e rugirei alto em meu delírio.

Recordo-me de uma manhã bem cedo,
Apenas o tempo de gritar a meu irmão “socorro!”
- e dois jovens guardas, magnífica gente,
transportaram-me de uma Sibéria para outra.
E depois, na pista de corrida, entre os pântanos,
saturados pelas lágrimas e pela humidade,
tatuamo-nos com os seu perfil junto ao coração,
para ele ouvir o som dos nossos corações quebrando-se.


Não aqueçam mais a fornalha
Esta história causou-me arrepios
O vapor percorre-me o cérebro.
Necessito tanto sacudir o passado,
submergir no calor amigo do vapor;
mas as memórias latejam na minha cabeça,
e eu carrego em mim estes estigmas em vão
tentando afugentar com varas de vidoeiro
indeláveis recordações de dias passados.


Vladimir Vyssotsky

 Com Geosites.com


Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Lulko Luba