Ora, como anunciado acima, caso ocorra o impeachment de Dilma Rousseff caberia à oposição defrontar-se e contaminar-se com a insolvência da economia brasileira. Destarte, fica visto que aos oposicionistas não interessa minimamente apoderar-se, no momento, do poder político maior da República.
Para Maria Terezinha Infantosi Vannucci.
Iraci del Nero da Costa *
Estamos a viver no Brasil uma situação inusitada quanto ao poder central da República (*). Tanto a chefe do poder Executivo como o PT estão profundamente enfraquecidos em decorrência dos atos de corrupção do mensalão e daqueles levantados no âmbito da Operação Lava Jato bem como pela eventual reprovação das contas de 2014 da presidente Dilma, ora ainda sob análise do Tribunal de Contas da União (TCU).
Assim, e aqui se evidencia o inusitado das condições que vivenciamos, o impedimento da presidente talvez se mostre altamente desejável não tanto pela nossa mandatária que parece aferrar-se a seu desgastado assento, mas certamente por Luiz Inácio da Silva e pelo PT, pois estes elementos - inclusive a ainda renitente presidente que já entregou as tarefas de cunho político a seu vice e a condução da economia a seus ministros da área: Fazenda, Planejamento e presidência do Banco Central -, poderiam dizer-se vítimas de perseguição golpista, encimada pela direita e pela mídia inescrupulosa, e deixar de responsabilizar-se pelas desastrosas condições socioeconômicas ora defrontadas pelo Brasil, condições estas que tendem a piorar largamente nos próximos dois anos criando, com respeito às eleições de 2018, um quadro absolutamente desfavorável à força política que se encontra à frente do poder instalado no Palácio do Planalto e que, se dele saísse agora, poderia voltar, em 2018, como salvadora de uma pátria vitimada pelas mais diversas e devastadoras crises.
Ora, como anunciado acima, caso ocorra o impeachment de Dilma Rousseff caberia à oposição defrontar-se e contaminar-se com a insolvência da economia brasileira. Destarte, fica visto que aos oposicionistas não interessa minimamente apoderar-se, no momento, do poder político maior da República.
Eis demonstrada nossa situação contraditória: aos detentores do poder interessa abandoná-lo e aos seus opositores não seria oportuno ocupá-lo! Tal fato revela-se integralmente chocante se considerarmos o paradigma universal que rege as intenções mais arraigadas em cada uma dessas duas forças: os donos do poder aferrando-se a ele com todas as garras e expedientes possíveis; seus desafetos tudo fazendo para deslocá-los do confortável e almofadado castelo no qual se aboletaram pela força dos votos ou das armas.
O Parlamento - o qual tem atuado de sorte a atrair a dirupção que paira sobre nós -, por seu turno, vê-se chefiado no Senado por um aliado a se comportar como inimigo da presidência da República e na Câmara Federal por um ex-aliado palrador, ambos favoráveis a aumentos de gastos que abalam as propostas de ajuste formuladas pelos ministros incumbidos de tentar recuperar a combalida economia nacional.
Experimentamos, pois, uma quadra inteiramente confusa na qual as palavras e os pensamentos proferidos pelas facções políticas adversárias não devem ser entendidas em sua formulação lógica, pois podem, em seu conjunto global, representar justamente o oposto de seu significado literal revelando-se, portanto, antinômicas.
Enfim, nos encontramos imersos no caos: quem está no poder talvez queira dele sair; quem deveria almejá-lo talvez não deseje assumi-lo.
NOTAS
Sem comprometê-la com minhas ideias, dedico este texto a minha cunhada cuja observação crítica sugeriu-me sua elaboração.
O autor reconhece que esta crônica foi escrita sob a indisfarçável influência da "teoria da conspiração".
* Professor Livre-docente aposentado da Universidade de São Paulo.
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