Muito antes de as atuais preocupações ambientais com o aquecimento global tornarem-se conhecidas do público, a prática da reciclagem de materiais já havia se disseminado sem, no entanto, ter conquistado a adesão maciça da sociedade.
Antigamente, o leite era engarrafado e entregue nas residências, junto com o pão, por leiteiros e padeiros. Não havia latas de alumínio nem garrafas PET, só vidro e folha-de-flandres. Depois, vieram as garrafas de refrigerante plásticas retornáveis, mais leves e práticas. Ainda assim, ecologicamente corretas, porque reutilizáveis.
Hoje, ninguém mais tem tempo e disposição para ir a supermercados carregando garrafas retornáveis. O mote atual é praticidade, mas as conseqüências para o planeta crescem juntamente com o conforto dos consumidores.
Os métodos para se dispensar embalagens recicláveis, todavia, talvez estejam equivocados. A fim de facilitar o trabalho dos que atuam no manejo do lixo reciclável, procurou-se transferir para os consumidores a tarefa de separá-lo em três tipos, em lixeiras coloridas, uma para vidro, outra para plásticos e uma terceira para papéis.
Não é fácil conseguir a adesão das pessoas quando elas têm de deixar de lado a comodidade, e nada mais complicado do levar o lixo separado àquelas caixas coloridas. Talvez, em lugar da divisão, da separação por tipos, deva-se dar lugar à síntese: um só saco plástico para todo o lixo reciclável é algo viável, todos podem ter em casa duas lixeiras, uma para o lixo orgânico, basicamente restos de comida e dejetos, e outra para tudo o que é reciclável.
Na verdade, não é tão grande a variedade destes materiais: metais, plásticos, vidro, papéis e madeira e, eventualmente, uma salada química como as baterias de celular e outros equipamentos eletrônicos, que, no entanto, também poderiam ser dispensados junto com os recicláveis, pois é muito mais barato concentrar este tipo de refugo indesejável e de difícil reprocessamento em um só lugar, e mais econômico ainda pagar determinado valor unitário por eles aos catadores de sucata do que montar uma complicada estrutura de recolhimento junto aos revendedores, por exemplo.
Embalados em sacos de cor diferente, vermelhos, por exemplo, os materiais nem sequer chegariam a ser recolhidos pelos lixeiros, os próprios catadores de papel, vidro e plásticos os levariam para locais de triagem.
É difícil, nos dias de hoje, querer que as pessoas abram mão de certas comodidades, como o uso de sacolas plásticas, garrafas PET, latas de alumínio ou folha-de-flandres, frascos plásticos diversos e papelão. Por isso, ter à mão uma lixeira exclusiva para material reaproveitável é fundamental.
Coletando os sacos de uma só cor padronizada contendo materiais puros, não misturados ao lixo orgânico, os catadores de sucata só precisariam classificá-los por poucos tipos: embalagens metálicas, plásticas (isopor, PET, frascos em geral e sacolas, inclusive as de supermercados), vidro, papel e papelão.
Isentos de material orgânico, sacos com lixo reciclável não exalam mau cheiro e podem ser aproveitados ao máximo, pois não há pressa em despachá-los. A coleta de lixo custaria menos aos municípios, pois a quantidade levada pelos caminhões de lixo seria menor.
Os sacos, vermelhos ou de outra cor qualquer que se escolha, seriam vendidos em supermercados, juntamente com os tradicionais sacos comuns azuis ou pretos.
Com a atual onda de preocupações ambientais, não seria difícil conseguir a adesão de todos, muito mais fácil do que tentar persuadir as pessoas a banir materiais que levam centenas de anos para se degradar quando dispersos no meio-ambiente.
Aliados comodidade e interesse geral, ganham todos: meio-ambiente, cidade, indústria e catadores.
Luiz Leitão
http://detudoblogue.blogspot.com
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