Exaltado como um programa pioneiro no campo da energia alternativa, o biodiesel pode transformar-se em um vilão para a indústria saboeira e seus consumidores, graças à falta de fiscalização sobre a produção de matérias-primas para esse tipo de combustível. De acordo com dados coletados pela Abisa entre empresários do setor, o sebo usado para fabricação de sabões e sabonetes está sendo desviado para a confecção do biodiesel, o que já provocou um aumento de 60,8% nos últimos dois meses no quilo do produto.
A projeção para os próximos três meses é que o preço do quilo do sebo se equipare ao quilo da soja, que varia entre R$ 1,40 e R$ 1,50. Essa equação aponta um reajuste de 20% para os próximos três meses no preço final de sabões e sabonetes.
Não é possível que um setor da Economia seja favorecido em detrimento do outro. Quem vai sofrer é o consumidor, avalia o presidente da Abisa (Associação Brasileira das Indústrias Saboeiras e Afins), Álvaro Azambuja.
Álvaro lembra que a Abisa tem feito gestões junto aos governos estaduais e Federal, propondo métodos para viabilizar a redução dos preços nos produtos da indústria saboeira.
Estamos criando projetos, desenvolvendo propostas viáveis para a redução do preço de nossos produtos, beneficiando nossa indústria, os governos e a população. Não é possível que a Economia brasileira caminhe no sentido inverso a isso, afirma ele.
A Abisa
A Abisa é a Associação Brasileira das Indústrias Saboeiras e Afins e congrega 113 empresas do setor em todo o país, responsáveis pela produção de diversos itens de higiene pessoal e doméstica. Entre nossos associados, há empreendimentos nacionais e multinacionais (como Unilever, Procter & Gamble, Kolinos, entre outras), mas os primeiros representam a quase totalidade de nossos quadros, dos quais 80% são de pequenas e médias empresas. Nossos produtos, comercializados em supermercados, totalizaram um faturamento de R$ 9,14 bilhões em 2006. São eles: detergentes líquido e em pó; sabão em barra; sabões pastosos, sabões granulados e em pó; amaciantes; desinfetantes; sabonetes e outros. No setor de higiene e limpeza, o detergente em pó é o carro chefe de nossa indústria, com um faturamento, também em 2006, de R$ 3,4 bilhões. Em seguida vem o sabonete, com R$ 2,9 bilhões. Em terceiro lugar está o sabão em barra, com R$ 1,2 bilhão. O amaciante faturou R$ 946 mil e o detergente líquido R$ 601 mil.
Críticas ao biodiesel
O boom do biodiesel não está afetando apenas a indústria saboeira. A demanda por soja para a fabricação do combustível ameaça acelerar o desmatamento da Amazônia brasileira, segundo afirma reportagem publicada pelo diário espanhol El País.
A reportagem afirma que dois programas do governo incentivam a expansão da produção de soja: o programa de produção de biodiesel, considerado pioneiro, e o novo programa de aceleração do crescimento, dirigido à ampliação da infra-estrutura e que supõe a ampliação de portos e rodovias para facilitar o transporte da soja.
O jornal reproduz declarações de um ambientalista brasileiro de que o cultivo da soja está invadindo não somente o cerrado, como já está começando a comer parte da Amazônia, com o agravante de que o monocultivo da soja não só destrói a selva, mas também acaba expulsando comunidades inteiras de agricultores familiares, acrescentando a miséria às populações dessas áreas.
A reportagem afirma ainda que o cultivo da soja pode provocar a contaminação dos rios e do solo por agrotóxicos e fertilizantes e reduz a biodiversidade animal e vegetal.
Para o jornal, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está entre a cruz e a espada, pois a produção e exportação de soja supõe uma das principais entradas de divisas, enquanto, por outro lado, o Ministério do Meio Ambiente, dirigido pela ministra Marina Silva, já teve vários desencontros com algumas medidas do governo.
Uma das provas da vontade do governo de Lula em seu segundo mandato vai ser a permanência ou não no Executivo da ministra Silva, conhecida por sua intransigência em matérias ambientais, conclui o jornal espanhol.
O que é o biodiesel
O biodiesel é um combustível feito de óleos vegetais ou gordura animal. Esse óleo é misturado com álcool (ou metanol) e depois estimulado por um catalisador. O catalisador é um produto usado para provocar uma reação química entre o óleo e o álcool. Depois o óleo é separado da glicerina (usada na fabricação de sabonetes) e filtrado.
Existem muitas espécies vegetais no Brasil que podem ser usadas na produção do biodiesel, como o óleo de girassol, o amendoim, a mamona, a soja, entre outros.
As mistura entre o biodiesel e o diesel mineral é conhecida pela letra B, mais o número que corresponde à quantidade de biodiesel na mistura. Por exemplo, se uma mistura tem 5% de biodiesel, é chamada B5, se tem 20%, é B20. Hoje nos postos em todo o Brasil é vendido o biodiesel B2.
A utilização do biodiesel puro ainda está sendo testada, se for usado só biodiesel (100%), sem misturar com o diesel mineral, vai se chamar B100.
O Governo Federal criou o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), que é interministerial e tem o objetivo de implementar, de forma sustentável, tanto técnica, como economicamente, a produção e uso do biodiesel, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional, via geração de emprego e renda.
ABISA
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