Um atentado suicida no aeroporto Domodedovo, em Moscou, o maior e mais movimentado da Rússia, deixou, inicialmente, um saldo de pelo menos 35 mortos e 150 feridos graves. As primeiras informações dão conta que a explosão foi provocada por um suicida, levando chefes de governos e de estados de todo o mundo a classificar o ocorrido como "um ato de brutal covardia".
Por ANTONIO CARLOS LACERDA
MOSCOU/RUSSIA - PRAVDA.RU
Depois de cancelar a viagem que faria a Davos, onde participaria do Fórum Econômico Mundial, o presidente russo, Dimitri Medvedev, prometeu 'perseguir e punir' os responsáveis pela barbaridade e logo em seguida se reuniu com todas as autoridades da área de segurança da Rússia para tratar do assunto e traçar um plano de ação imediata.
Na sua página virtual no site social Twitter, o presidente russo deixou registrado: "A segurança será reforçada nos maiores centros de transporte. Lamentamos as vítimas do ataque terrorista em Domodedovo. Os responsáveis serão perseguidos e castigados".
Dmitri Medvedev disse que, de acordo com as informações preliminares, "trata-se de um ataque terrorista", e convocou uma reunião de emergência com os chefes de segurança do país. O Banco Central da Rússia informou que não espera grandes reflexos no mercado por conta dos atentados.
A explosão, ocorrida por volta das 10h30 (horário de Brasília), foi causada por um suicida em um café próximo da área de desembarque internacional do aeroporto, no momento em que havia no local milhares de pessoas.
Inicialmente, a polícia russa disse estar em busca de três suspeitos de participar do ataque e que a bomba usada na explosão continha sete quilos de TNT e pedaços de objetos metálicos.
A polícia moscovita foi colocada em alerta e imediatamente deslocou agentes para estações do metrô da capital russa, que é alvo frequente de insurgentes do Cáucaso. Os vôos destinados ao aeroporto de Domodedovo foram desviados para os outros dois aeroportos: Sheremetyevo e Vnukovo.
Até o momento de fechamento desta matéria, nenhum grupo tinha assumido a autoria do atentado, mas Moscou costuma ser alvo de ataques dos rebeldes islâmicos do Cáucaso, que lutam contra a presença das forças do Kremlin na região e juraram levar a batalha para dentro do território russo.
O aeroporto de Domodedovo é considerado o mais moderno de Moscou, mas o seu sistema de segurança tem sido questionado nos últimos anos.
Em 2004, dois terroristas entraram em aviões no aeroporto de Domodedovo, após comprar passagens/bilhetes ilegais de funcionários do próprio terminal, e detonaram explosivos, matando 90 pessoas nos dois vôos.
Nos mais recentes ataques terroristas aos sistemas de transporte de Moscou, 39 pessoas morreram e 60 ficaram feridas em dois atentados em março de 2010 no metrô da cidade.
Em dezembro de 2009, rebeldes chechenos assumiram a responsabilidade pela explosão em um trem que fazia a rota Moscou/São Petersburgo, causando a morte de 26 pessoas morreram.
Após os atentados no metrô, o líder dos rebeldes chechenos, Doku Umarov, divulgou um vídeo afirmando que aqueles não seriam os últimos ataques empreendidos pelos rebeldes na Rússia. "Esta não será a última operação. Estas operações vão continuar, com a vontade de Deus, em seu território".
As autoridades ainda apuram as informações do atentado, mas sabe-se que, além dos 35 mortos, há cerca de 150 feridos e que se tratou de um ataque suicida. A polícia de Moscou está em alerta, principalmente em relação a outros terminais aéreos e ao metrô, que já foi alvo de terroristas do Cáucaso.
Nos últimos 15 anos, além do atentado que matou pelo menos 35 pessoas nesta segunda-feira, 24/01/2011, no aeroporto Domodedovo, Moscou já foi alvo de uma série de ataques atribuídos a rebeldes chechenos.
Centros comerciais, trens, hotéis e teatros já foram atingidos por carros-bomba e suicidas. O metrô da capital russa foi alvejado seis vezes em 12 anos.
Veja, a seguir, uma cronologia de alguns dos piores atentados ocorridos na capital russa:
Em junho de 1996, uma bomba colocada na linha Serpukhovsko-Timiryazevskaya do metrô matou quatro pessoas e feriu 12.
Em janeiro de 1998, uma bomba feriu três pessoas na estação de metrô de Tretyakovskaya.
Em agosto de 1999, a explosão de uma bomba em um shopping center matou uma pessoa e deixou outras 40 feridas.
Em agosto de 2000, 13 pessoas morreram e 118 ficaram feridas por causa da explosão de uma bomba no túnel de pedestres que leva à estação de Tverskaya, também no metrô.
Em fevereiro de 2001, uma explosão feriu 20 na estação de metrô de Belorusskaya.
Em outubro de 2002, uma bomba foi detonada dentro de um carro perto de uma lanchonete McDonald's. Uma pessoa morreu e oito foram feridas.
Em novembro de 2002, um grupo de militantes separatistas da região da Chechênia fez cerca de 900 reféns em um teatro da capital. A invasão da força antiterror da Rússia, que usou gás venenoso contra os militantes, matou 130 pessoas.
Em dezembro de 2003, uma bomba foi detonada por um suicida perto do Hotel Nacional. Seis pessoas morreram e 14 ficaram feridas.
Em fevereiro de 2004, um ataque suicida no metrô matou 41 pessoas e feriu 250.
Em agosto de 2004, um homem explodiu a si mesmo em uma estação de metrô, deixando 10 mortos e 33 feridos.
Em novembro de 2009, uma bomba explodiu perto de um trem expresso de luxo que ia de Moscou a São Petersburgo, matando 26 pessoas. Extremistas chechenos assumiram a autoria do atentado.
Em março de 2010, duas mulheres-bomba explodiram estações de metrô da capital. Quarenta pessoas morreram e pelo menos 90 ficaram feridas. A autoria do atentado foi reivindicada pelo líder rebelde checheno Doku Umarov, do grupo Emirado do Cáucaso, que declara querer unir ex-repúblicas soviéticas da região em um Estado islâmico.
A maior parte dos ataques é atribuída a grupos separatistas da região da Chechênia e a extremistas islâmicos que atuam na região do Cáucaso.
Os mesmos grupos também são considerados responsáveis por incidentes em outras regiões da Federação Russa, como na Ossétia do Norte.
O incidente mais grave na região aconteceu em 2004, quando militantes chechenos fizeram 334 reféns - entre eles, muitas crianças - em uma escola na cidade de Beslan. Todos foram mortos durante o confronto entre os rebeldes e a polícia.
A Chechênia, ao norte do Cáucaso, viveu duas guerras separatistas nas últimas décadas. Apesar de alegações de Moscou de que a república vive uma relativa calma, militantes separatistas islâmicos seguem promovendo ataques.
Segundo o pesquisador Nikolay Petrov, professor do centro de estudos Carnegie Center, de Moscou, "o que está acontecendo agora está conectado aos eventos em geral no norte do Cáucaso, mas o mais importante é que a Rússia está em estado de guerra há mais de 15 anos. Isso diminuiu o valor das vidas humanas".
Petrov assinala ainda que, apesar da tentativa de autoridades russas de ligar os grupos islâmicos da região à rede extremista Al-Qaeda, eles não estão relacionados.
"Essas redes não estão conectadas entre si. Elas são como uma bola de neve que cresceu por causa da crueldade que acontece ali há tantos anos", disse.
ANTONIO CARLOS LACERDA é Correspondente Internacional do PRAVDA.RU no Brasil. E-mail:- [email protected]
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