O sim retumbou por toda Igreja, como algo que jamais seria proferido, ou melhor, ouvido! Por uma articulação dos amigos, os sinos badalaram sete vezes, enquanto um sorriso disfarçado ecoava por entre os bancos, no meio dos convidados. Paulinho havia se casado. Sim, era verdade! Como ele mesmo dizia, o último romântico havia chegado ao fim de sua longa e duradoura jornada. Amores, vários; viagens, inúmeras; mulheres, tantas quantas as que ele quis e elas o aceitaram. Foi uma vida de bon vivant que parecia irrecuperável.
Flávia, com seu ar de eterna menina, havia destronado o rei das noites belorizontinas, o tornando fiel namorado e, agora, marido apaixonado. Ele, apenas sorria, desconversava, quando a surpresa e o espanto tomaram conta da turma. Todos já casados, alguns separados, com novas namoradas. Só ele resistia a uma união estável. Agora não, seria mais um.
Depois da chuva de preservativos na porta da igreja, falou baixinho ao amigo, o que a mãe de Flavia, agora sogra, ouviu e ficou indignada: - Daqui até o Rio, vou para em todos os motéis!
Do Rio veio o e-mail com o relatório das paradas, o que repercutiu entre a turma e foi parar na página criada no facebook, em sua homenagem: "Quem acredita que o Paulinho vai se casar?" Depois do fórum: "Ele vai se casar contra quem?" Com 171 comentários, veio o novo: "Roteiro de lua de mel de Paulinho", que foi publicado na íntegra.
- Roger, como havia prometido, de BH ao Rio paramos em todos os motéis. Saímos às 9h e chegamos ao Rio às 23h, contabilizando 13 motéis e um drive-in. Flavinha amou o motel depois de Conselheiro Lafaite, o primeiro à direita. Bicho, o motelzinho é fino, depois confira, tem até cascata dentro dos quartos. Agora, aquele depois de Juiz de Fora é de matar. Mas pior que o de Santos Dumont eu nunca vi, aquilo é uma gritaria de matar qualquer tarado, eu pensei que o casal do quarto ao lado estava brigando. Pior, no quarto em que a gente ficou tinha um pôster em tamanho natural do Tiririca!!! Cortou nosso barato, mas valeu, porque a Flavinha ficou rindo dos desejos aflorados do casal vespertino. No mais, é isso, e aqui no Rio está um calor infernal, mas dona Flavinha está segurando a pressão, com a ajuda providencial do ar condicionado... Valeu, agora vou à praia conferir o que as cariocas tem de bummmm! Fui, abraços, Papi.
Papi era o apelido que a turma deu para ele nos tempos de faculdade, um diminutivo de Paulinho Papador, pelo seu gosto excessivo por canja de galinha.
Em menos de 16h, o novo Fórum da página do face registrava 54 comentários. O mais original era do amigo anônimo: - Por isso ele me pediu para dar de presente de casamento uma caixa de viagra!
Dizem que a irmã da Flavinha passou um e-mail para a moçada ameaçando mostrar aquilo para a mãe dela, mas como muitos reivindicavam o Paulinho em sua versão Papi, ela acabou deixando de lado o assunto e até postou um comentário: - Para dar conta da minha irmã, tem que ser cabra macho, viu!
Para surpresa geral da turma, um amigo de Paulinho que eles só conheciam pelas histórias das viagens dele, que era um companheiro de aventuras de Papi pelo Brasil afora, residente em Brasília, deixou um recadinho cheio de saudade, em forma de protesto: - Casa não Papi, você já está no bem bão de graça com a Flavinha há muito tempo, o verão nos aguarda em Guarda do Embaú!!!
Poxa, não vale publicar o que a Flavinha postou no dia seguinte, avisada pela irmã, que havia entrado na onda, mas que, antes, telefonou pedindo ao Paulinho para apresentá-la ao viajante brasiliense, acreditando que o poder de conversão entre solteiros depravados era hereditário...
Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor
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