Por Jéssica Poliane dos Santos
Os jovens das últimas gerações são quase sempre tachados de juventude acomodada, sem perspectiva, com falta de sentimentos mais humanitários e cada vez mais individualistas (salvo algumas raras exceções), dentre outros adjetivos negativos.
Os jovens de outras épocas "douradas", que lutavam armados por direitos e liberdade, viveram descobertas e experiências únicas, ouviram surgir grandes ídolos da música e outras histórias e momentos marcantes, deixou de herança para a maioria da juventude atual, algo pronto, que talvez remetesse ao desapego com questões de cunho mais social e filosófico.
É costumeiro ouvir que a juventude de hoje, que vive a conquista das lutas vencidas a base de gritos por nosso país no passado, valoriza apenas o ego e as conquistas pessoais, negligenciando um ideal de sociedade mais igualitária e que, apesar dos grandes avanços (tecnológico, social e etc.), não foi e não está sendo capaz de gerar isso a favor de seus verdadeiros direitos de cidadãos.
Podemos observar tais modos, ao nos deparar com a eloquente busca "da saudade daquilo que não vivi", por alguns jovens. Idolatrar épocas passadas, músicas, estilos e filosofias, mostra o quanto carente de ideais está nosso tempo de flores juvenis.
Aqueles que se apegam ao momento mostram-se mais preocupados com as marcas, estéticas e valorização do ter mais do que o ser (o que não é novidade nem estranho nos dias de hoje), tornando-se escravos de um sistema que suga cada vez mais a capacidade individual da liberdade de pensamentos e ações. No meio social em que vivemos, somos levados a consumir e produzir de acordo com o andar da baia na qual somos colocados diariamente.
Tantas coisas ruins acontecendo, e estamos cada vez mais escravizados, com aprisionamento de pensamentos e banalização geral de atitudes que vão além de ferir apenas a moral e os bons costumes, tornam ainda mais infame a espécie humana no planeta.
Apesar da comodidade da juventude atual, sempre houve/há reclamações de todas as esferas, de musicais à políticas, mas, no entanto, falta-nos ação em querer mudar.
A grande maioria, encontra-se presa na sala assistindo novela pela TV e não se preocupa em ceder espaço em suas mentes a qualquer tipo de visão e autocrítica da realidade vivida.
Alguns outros vivem com lamentações em não ter vivido e participado de lendários acontecimentos passados, e não percebem que a época em que vivemos é hoje, e que o passado não volta, tal como o rio de Heráclito.
Apesar de toda comodidade dessa modernidade líquida, onde o tempo e o espaço se fundem e se "desmaterializam", na velocidade de internet de 10 megas, nem toda nudez será castigada e/ou está perdida.
Gostaria de frisar três criativos protestos, praticados por jovens desta geração e que são interessantes pela inovação com a qual resolveram reagir perante o sistema. Eles acontecem em Belo Horizonte, em Moscou e na Espanha.
O primeiro, denominado Praia da Estação é um movimento que surgiu na capital mineira por volta de 2010, em protesto à proibição, por parte da prefeitura, de eventos culturais em uma das praças mais tradicionais da cidade. A praça Rui Barbosa, conhecida também por Praça da Estação.
Sobre o lema de "ocupe a cidade", os grupos (que na verdade não é de nada e nem de ninguém) da praia mantêm um site, onde divulga não só as ações deste movimento, como outras interferências na cidade de Minas. O que vale a pena ser ressaltado é que o site é gerido por uma filosofia baseada nos movimentos da Internacional Situacionista, por Guy Debord e a ZAT (Zona Autônoma Temporária), uma ideologia criada por um filósofo chamado Hakin Bey, para criar movimentos que começam e terminam do nada em espaços diversos.
O protesto evoluiu e virou movimento oficial na praça. Além do mais, conseguiu vitórias importantes e principalmente, mais adeptos. A cada intervenção, surgem novos rostos, em meio às águas que brotam do chão da praça.
Aliás, surgir, sumir e reaparecer é a movimentação realizada constantemente pelas "Pussy Riots" (na tradução, algo como revolta das bucetas), uma banda de punk rock russa, que com seus shows em lugares inusitados, protestam contra o governo de Vladimir Putin.
Arbitrariamente, se recusam a ser uma referência musical. Não seguem padrões estéticos e nas apresentações estão sempre escondidas por detrás de toucas e roupas coloridas.
Embasadas nas teorias feministas de Beauvoir e o seu Segundo Sexo, as Pussy não pretendem ser estrelas do Rock. Elas adotaram a clandestinidade e o anonimato como peças fundamentais para a pureza da mensagem contestadora que pretendem passar. Os shows não têm hora marcada, nem lugar pra acontecer. Caso esteja em Moscou, as coloridas Pussy Riots poderão aparecer em cima do metrô, de repente em uma praça movimentada, de surpresa sobre uma construção abandonada.
No outro canto da Europa, uma greve agitou os arredores de Madri. Como o direito de todo o trabalhador em reivindicar melhores condições de trabalho, a greve de algumas meninas espanholas, - embora muito bem empregadas e com bons e fiéis clientes - , resolveram parar a venda de suas mercadorias e andaram pelas ruas, munidas de cartazes que estampavam o que de fato as levaram até lá, "... cumpram com suas responsabilidades sociais", e assim houve a paralisação geral da categoria.
Os banqueiros, a clientela mais fiel, pediram ajuda governamental para a situação. As meninas de luxo queriam mais aberturas de crédito financeiro para famílias carentes e empresas à beira da falência. Na atribulada crise que a Espanha vem passando, suas "hijas" resolveram fechar as portas.
A sociedade mundial do espetáculo se desperta aos poucos, amparada por uma sutil subversão de alguns de seus membros. E embora haja intensos esforços para que a revolução seja puramente revolução, a sociedade do espetáculo inevitavelmente a transforma em comércio.
O que é ser revolucionário (no mundo de hoje)?
Para começar, levantem-se e usem os muros, monte uma grife, seja politicamente incorreto. Participe de movimentos em lugares inusitados, e vá contra a maré e contra o vento. Não se esqueça de convidar todos para o espetáculo, pois "Dada, sozinho, não cheira a nada", como já dizia o manifesto de 1920, elaborado por Francis Picabia.
Só não se esqueçam que os tempos mudaram e todos vocês estão acusados!
*Jéssica Poliane dos Santos é geógrafa, formada pela PUC de Minas Gerais.
http://www.debatesculturais.com.br/o-momento-em-que-a-subversao-constroi-um-novo-mundo/
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