A realidade do tempo
É muito comum encontrarmos pessoas que gostam de falar dos tempos.
A maioria sempre se refere ao tempo passado e lastima o presente. Compreende-se. O mundo atual é o da corrida contra o relógio, corrida contra o tempo. Todos têm a obrigação de serem vencedores em alguma arte ou ofício. Os saudosistas lembram o tempo do viver mais descansado, que é o certo, dos costumes da época mais rígida, que evitava um comportamento irregular, como o consumo de drogas pelos jovens, por exemplo. A vida era bem mais calma, é uma verdade. Mas tudo tem seu lado bom e o outro negativo. Nos tempos passados, um mal-estar cardíaco era uma ameaça quase fatal. Hoje coloca-se um extensor numa passagem obstruída e dificilmente a ameaça morte persiste.
Continuar com uma lista de exemplos cansa. Mas podemos notar que a vida de trinta, quarenta anos passados, seria bem melhor se contasse com os recursos de hoje. Não falo da televisão de plasma, que apresenta sempre as mesmas coisas. Levar cadeiras para calçadas e manter longas conversas, sempre com um cafezinho, licor caseiro e falar, geralmente mal, da vida dos outros, era bem mais prosaico, sem dúvida. Não vi isto, salvo em lugares do interior, que costumam guardar seus hábitos.
Depois do café, acendiam cigarros com o fumo mal lavado. Ora, é claro que todos fumavam, inclusive o médico. E tome conversa fiada, contavam-se lorotas enquanto as estrelas davam beleza ao lugar.
Hoje a poluição das grandes cidades ofusca o brilho de estrelas mais fracas, não há cadeiras nas calçadas - imagine! - e o cigarro não faz parte dos hábitos modernos, felizmente.
Os tempos mudaram, não para pior. Mudaram porque esta é a evolução da Vida, que não sabemos onde vai parar. Que bom!
Jorge Cortás Sader Filho é escritor
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