Reunião nuclear termina e Obama acha "mundo mais seguro"

Com um comunicado final distribuído aos 47 participantes e com um discurso do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi encerrada nesta terça-feira (13), em Washington, a Cúpula de Segurança Nuclear, convocada pelo anfitrião e que terminou com a apresentação de um documento e de um plano de trabalho, enfatizando a necessidade de trabalhar com urgência por ações e medidas concretas para que a tecnologia nuclear não "caia em mãos erradas".

Líderes de 47 países, inclusive os Estados Unidos, e representantes das Nações Unidas, da União Europeia e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) se reuniram no Centro de Convenções de Washington por dois dias, para discutir meios de prevenir que materiais nucleares caiam nas mãos de terroristas ou de "atores não estatais".


"O terrorismo nuclear é uma dos desafios mais pungentes à segurança internacional, e fortes medidas de segurança nuclear são os meios mais efetivos de conter terroristas, criminosos ou outros atores não autorizados da aquisição de materiais nucleares" afirma o comunicado.
Obama afirmou que "o mundo está agora mais seguro", com os compromissos assumidos pelos 47 países presentes à cúpula. "Fizemos um progresso real na direção de um mundo mais seguro", afirmou o presidente americano em declarações à imprensa após o encerramento da cúpula.


Agitando o espantalho
Mais cedo, durante o encontro, Obama chegou a citar a al-Qaida como um "ator" interessado em ter acesso a materiais nucleares, alegando a necessidade de ação imediata para evitar o que chamou de "catástrofe".


"Duas décadas depois do fim da Guerra Fria, enfrentamos uma cruel ironia da história - o risco de confronto nuclear entre nações diminuiu, mas o risco de um ataque nuclear aumentou", acredita Obama.


Brasil pede eliminação de arsenal
Em seu discurso, o presidente Lula pediu que todos os países eliminem o arsenal nuclear para neutralizar a possibilidade de que organizações terroristas tenham acesso à bombas atômicas.


“O modo mais eficaz de se reduzir os riscos de que agentes não-estatais utilizem explosivos nucleares é a eliminação total e irreversível de todos os arsenais nucleares”, disse o presidente, em reunião fechada com os líderes de outras 46 nações que participaram do encontro.
O presidente Lula aproveitou o discurso para reafirmar a necessidade de se reformar o formato do Conselho de Segurança das Nações Unidos, conservado desde a criação do organismo, em 1945. O governo defende a ampliação do Conselho, além de postular uma cadeira permanente no órgão máximo de deliberação das Nações Unidas.


“A ONU vem perdendo credibilidade. Ao não contar com um conselho de segurança mais representativo e com mais legitimidade — e cada vez mais descompassado com a realidade atual —, as Nações Unidas perdem espaço na governança da segurança internacional. Isso não interessa a ninguém”, afirmou.


EUA e Rússia
Ao mesmo tempo que a Cúpula encerrava seus trabalhos, os Estados Unidos e a Rússia assinavam um novo protocolo para a eliminação de 34 toneladas de plutônio cada um, material suficiente para produzir ao todo 17.000 bombas atômicas.


"Esta assinatura é um passo essencial, que leva ao cumprimento da obrigação dos dois países de eliminar em segurança e com transparência o plutônio militar em excesso", disse o Departamento de Estado em um comunicado.


Washington e Moscou já tinham assinado, na última semana, um novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas, no qual se se comprometem em reduzir seus respectivos arsenais para 1.550 ogivas e 800 vetores nos próximos sete anos – um corte de cerca de 30% no total que as duas potências dispõem atualmente.


Israel não foi
Em uma atitude interpretada pela mídia como de "desafio e impunidade", a maior potência militar do Oriente Médio se negou a participar da cúpula realizada pelos EUA. Desta maneira, o Estado sionista evitou revelar seu poderoso arsenal nuclear não declarado nem sujeito a qualquer controle internacional.


Ao manter-se fora do Tratado de Não Proliferação Nuclear, de 1970, Israel evitou ter de se comprometer a não fabricar armas nucleares e a permitir que seus inspetores acessem seu reator de Dimona, do qual sabe-se que produziu o único arsenal atômico da região.
A presença do premiê Benjamim Netanyahu em Washington na cúpula seria inédita, já que os hierarcas israelenses sempre eludiram esse tipo de reuniões, para evitar revelar e expor suas políticas nucleares secretas


Rouba-se de quem tem
Atualmente existem oito países que detonaram satisfatoriamente armas nucleares. Cinco deles são considerados "Estados nuclearmente armados", um status reconhecido internacionalmente outorgado pelo Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).
Na ordem da criação de armas nucleares estão os seguintes países: os Estados Unidos, a Rússia (posição herdada da URSS), o Reino Unido, a França e a China.


Desde que o tratado foi assinado outros três países realizaram provas nucleares. A Índia, que jamais o assinou, o Paquistão, no mesmo caso e a República Popular Democrática da Coreia, que se retirou do TNP neste século.


Além disso, existem amplos informes oficiais dos Estados Unidos e da Europa que confirmam que Israel possui um arsenal com armas nucleares, nunca declarado nem desmentido pelo estado sionista.


Atualmente existem 23 mil ogivas nucleares em prontidão no planeta, a maioria delas pertence a Estados Unidos e Rússia.
De acordo com a própria lista do Pentágono ( em formato .pdf ), existem cerca de 865 bases militares americanas espalhadas pelo planeta em 2007, mas se incluirmos as novas bases no Iraque e no Afeganistão o resultado ultrapassa mil. Estas mil bases constituem 95% de todas as bases militares que todos os países do mundo mantém em território de outro país.


Irã questiona intenções
O porta-voz do Ministério das Relações Externas do Irã, Ramin Mehman-Parast, questionou nesta terça-feira as intenções ocultas no encontro realizado nos Estados Unidos. Em entrevista coletiva em Teerã, Mehman-Parast lançou dúvidas sobre as reais intenções do evento hospedado por Obama.


A cúpula é um "show" destinado a "invocar uma ameaça irreal", ao mesmo tempo que procura tirar a atenção da comunidade internacional para os motivos reais de preocupação, afirmou Mehman-Parast aos jornalistas da Press TV, emissora iraniana de televisão.


"Os Estados Unidos não podem falar sobre desarmamento nuclear enquanto ameaçam usar tais armas contra outras nações", disse Mehman-Parast, lembrando da nova doutrina nuclear americana, anunciada na semana passada


"Um país que possui armas nucleares, que já as utilizou contra centenas de milhares de pessoas inocentes e ainda ameaça nações com tais armas não deveria jamais sediar tais conferências", afirmou Mehman-Parast, agregando que tem sérias dúvidas quanto às intenções reais dos Estados Unidos com a realização da Cúpula.


Obama pressiona Brasil e Turquia
Obama se reuniu nesta terça-feira com Lula e com o premiê da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, para pressionar os dois países a aderirem às sanções que os Estados Unidos querem impor contra o Irã, de acordo com fontes ligadas ao governo do Brasil.
Mais cedo, o representante americano na reunião afirmou que "é o momento de aprovar sanções contra o Irã", apesar da oposição de vários países, entre eles o Brasil, a China e o Irã. "Achamos que é a hora de agir", afirmou o porta-voz do departamento de Estado, P.J. Crowley em relação às sanções.


A proposta do Brasil e da Turquia é que o Irã envie parte de seu urânio levemente enriquecido à Turquia e que este país o troque por combustível nuclear que receberia dos países ocidentais e que depois mandaria a Teerã, explicou hoje um alto funcionário do Ministério de Assuntos Exteriores do Brasil.


Os principais pontos relacionados pelo comunicado são:

Fortalecer a segurança nuclear e reduzir a ameaça do terrorismo nuclear;

Realizar ações nacionais e impulsionar a cooperação internacional para evitar o terrorismo nuclear;

Apoiar as iniciativas do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de dar mais segurança aos materiais nucleares vulneráveis nos próximos quatro anos;

Evitar que "atores não-estatais" obtenham tecnologias para usar materiais nucleares;

Promover medidas para garantir a segurança do urânio altamente enriquecido e do plutônio, materiais básicos usados na construção de armas nucleares;

Reafirmar o papel central da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) no cenário global de segurança nuclear;

Cooperar para evitar e responder ao tráfico nuclear ilegal;

Apoiar práticas de segurança nuclear fortes que não infrinjam os direitos dos estados de desenvolver e utilizar a energia nuclear.

Da redação, com agências

Vermelho.org

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