30ª Mostra de Cinema de São Paulo apresenta para os brasileiros hoje o filme talvez mais interessante para ver nesta terça-feira , O Sol, do russo Alexandr Sokúrov.
Ele completa, segundo o diretor, sua trilogia de déspotas, que começou com Hitler e Lênin. Claro, politicamente não dá para levar Sokúrov a sério, pois escolhe seus déspotas a dedo enquanto mostra-se extremamente tolerante (quando não nostálgico) em relação ao czarismo - basta ver A Arca Russa, notável sob outros aspectos.
Em todo caso, o seu imperador Hiroito (Issey Ogata) de O Sol pouco lembra um tirano e sim um pobre adulto infantilizado e distante do mundo real. Hiroito é visto no ocaso da guerra, quando o Japão precisa capitular e ele, renunciar à sua condição divina, por exigência dos americanos. Seria a forma de mantê-lo como figura simbólica, decorativa na verdade, em um país ocupado.
O que fica do filme é o senso de minúcia de Sokúrov, o trabalho com a imagem inquietante (ele próprio faz a direção de fotografia) e sua habilidade para trabalhar em ambientes claustrofóbicos, os bunkers onde se abrigam seus "déspotas". O relacionamento com o general MacArthur (Robert Dawson), o reencontro com a imperatriz, a possibilidade de entrar em contato com uma vida normal, sem o fardo da divindade, fazem de Hiroito um personagem humano, demasiado humano. Tem, sob a lente de Sokúrov, a densidade de uma figura histórica, mas também a fragilidade de um mortal.
O Sol. (2005, 110 min.) - Espaço Unibanco 1. Rua Augusta, 1.475 (11) 288-6780. Hoje, 20 h. Sala UOL. Rua Fradique Coutinho, 361 5096-0585. 4.ª, 21h50.
Agência Estado
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