Pela 1ª vez, cientistas encontram água congelada em estrela bebê fora do Sistema Solar

Um dos mistérios mais fascinantes da astrofísica acaba de ganhar um novo capítulo: pela primeira vez, cientistas detectaram água em forma congelada ao redor de uma estrela bebê fora do Sistema Solar. A descoberta foi feita por uma equipe internacional de astrônomos utilizando o telescópio ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), no Chile, e representa uma confirmação inédita da presença de gelo em regiões de formação estelar em outros sistemas planetários.

O achado ocorreu durante observações do sistema estelar IRAS 15398-3359, localizado a cerca de 520 anos-luz da Terra, na constelação de Lupus. Essa estrela ainda está em fase embrionária, envolta por um denso envelope de gás e poeira cósmica. Os pesquisadores identificaram assinaturas espectrais de moléculas de água congelada presentes no disco protoplanetário ao seu redor. A confirmação do gelo foi publicada em um estudo detalhado pela Revista Galileu.

De acordo com os astrônomos, a presença de água congelada tão cedo no processo de formação estelar pode ter implicações profundas sobre a origem da vida. O gelo detectado poderá eventualmente se integrar em cometas, asteroides ou mesmo planetas em formação, servindo como veículo primário para a entrega de água líquida em mundos rochosos. Isso fortalece a teoria de que a água da Terra — e possivelmente a de outros planetas habitáveis — pode ter origem em estruturas semelhantes durante os estágios iniciais do nascimento de sistemas solares.

Os dados coletados indicam que a água congelada está distribuída em grandes quantidades no disco em torno da jovem estrela, e que esse gelo contém tanto H2O puro quanto misturas com outras substâncias voláteis como monóxido de carbono e metanol. A detecção só foi possível graças à altíssima resolução do telescópio ALMA, que permitiu captar os traços moleculares mesmo em meio a nuvens densas de poeira cósmica.

Essa descoberta também tem implicações técnicas importantes para o estudo de exoplanetas. Ao compreender melhor como a água se distribui em discos protoplanetários, cientistas poderão refinar seus modelos sobre onde e como mundos potencialmente habitáveis podem se formar. Além disso, o estudo pode fornecer pistas sobre a composição de atmosferas futuras em planetas ainda em formação.

Para os pesquisadores, o achado é comparável à descoberta de um “berçário cósmico úmido”. A metáfora ilustra a ideia de que as condições para o surgimento da vida podem ser muito mais universais do que se pensava. Se a água — ingrediente fundamental para a biologia como conhecemos — aparece tão cedo e em regiões tão distantes, é plausível imaginar que muitos outros mundos também a tenham desde seu nascimento.

Os cientistas agora planejam direcionar novas observações para estrelas em fases semelhantes de desenvolvimento, ampliando o escopo de análise para entender se a presença de água congelada é um fenômeno isolado ou recorrente. O objetivo final é traçar uma cartografia da água no cosmos, conectando os pontos entre poeira, gelo, planetas e, talvez um dia, formas de vida.

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Author`s name Evgenia Rumyantseva