ICS: Novo livro
A Imprensa de Ciências Sociais anuncia o lançamento do livro
Fazendo Género no Recreio: a Negociação do Género e Sexualidade entre Jovens na Escola da autoria de Maria do Mar Pereira (Professora Auxiliar, Universidade de Leeds, UK)
Trata-se de uma obra pioneira no nosso país, que oferece uma análise sociológica fascinante e surpreendente daquilo que se vai passando todos os dias nos recreios das escolas portuguesas. Como demonstra Maria do Mar Pereira, os recreios são espaços em que raparigas e rapazes estão sempre a aprender e negociar muito ativamente estereótipos sobre género (i.e. ideias sobre masculinidades e feminilidades) e normas de sexualidade. Esse é um processo trabalhoso e complexo que produz tanto prazer e união como desconforto e exclusão.
Como é que um rapaz se torna «respeitado» pelos/as colegas? O que acontece se não o conseguir? Qual é a diferença entre «pitas» e raparigas «normais»? Que papel desempenha a coscuvilhice na vida das/os adolescentes? E o que mais se passa no recreio das escolas portuguesas? São estas algumas das muitas perguntas que Maria do Mar Pereira explora neste livro que será de grande interesse para adolescentes, pais e professoras/es.
O livro será lançado no dia 6 de Janeiro, pelas 17.00, em Lisboa - os dados do evento podem ser consultados no documento em anexo.
Em baixo, um resumo das principais conclusões da obra.
Apresentação do Projecto
É uma etnografia num escola em Lisboa. A autora fez observação participante junto de uma turma de 8º ano, i.e. durante três meses tornou-se aluna da turma, indo para a escola todos os dias (com uma mochila às costas!), assistindo às aulas com a turma, participando nas suas brincadeiras no recreio, conversas, idas ao centro comercial, etc. Para além disso, fez entrevistas com as/os jovens, pediu-lhes que fotografassem e filmassem o seu quotidiano, analisou os seus cadernos e páginas em redes sociais.
Resultados:
As/os jovens da turma frequentemente marcam diferenças entre rapazes e raparigas como forma de se distanciarem de traços e comportamentos considerados "inferiores" e assim afirmar a sua própria superioridade em relação a um/a ou mais colegas. Para marcar esta diferença, as/os jovens usam várias estratégias. Uma delas é invisibilizar as semelhanças entre os sexos, atribuindo nomes e valorizações distintas a um mesmo comportamento quando é assumido por um rapaz ou uma rapariga. Por exemplo, tanto raparigas como rapazes conversam frequentemente sobre a vida de outras pessoas, mas este comportamento é descrito como "coscuvilhice" quando praticado pelas primeiras e "apenas curiosidade saudável" quando praticado pelos últimos.
As fronteiras entre aquilo que é adequado a rapazes e raparigas são protegidas intensamente, e aquelas/es que as desrespeitam ou transgridem são sujeitas/os às mais variadas formas de sanção e até exclusão. Por isso, as/os jovens monitorizam-se a si próprias/os e às/aos outras/os cuidadosamente (gerindo a roupa que vestem e a forma como se comportam, dando advertências e conselhos, ou usando o gozo e ridicularização).
No entanto, estas fronteiras não são sempre consensuais ou aceites passivamente: alguns/umas jovens fazem esforços no sentido de questionar e desmontar as fronteiras de género, por exemplo, tentando frequentar espaços do recreio que não são considerados "adequados" a elas/es (por exemplo, o caso de raparigas que tentam usar o campo de futebol para praticar desporto).
A marcação de diferenças e desigualdades de género entre jovens do mesmo sexo envolve frequentemente a referência a, e (des)valorização de, identidades sexuais específicas. É bastante frequente os rapazes serem chamados "paneleiros" ou "maricas" e, como explicaram as/os jovens, isto não quer dizer necessariamente que são homossexuais, mas sim que não correspondem, de algum modo, aos requisitos da masculinidade considerada "ideal". Isto torna as escolas portuguesas num contexto particularmente hostil para as/os jovens com uma identidade sexual distinta daquela que é considerada "normal" e "saudável" (usando as palavras de um dos rapazes da turma).
Um conjunto de raparigas tem uma reputação muito negativa e saliente na escola devido a especulação sobre a sua atividade sexual considerada "excessiva", tanto em termos de número de parceiros como de tomada de iniciativa no contacto com eles. É notória aqui a diferença significativa entre o que é considerada uma sexualidade desviante e problemática no caso de um rapaz e no de uma rapariga, como outros estudos já haviam demonstrado.
O Impacto deste Estudo:
Os resultados foram partilhados com as/os jovens e usados para as/os ajudar a refletir criticamente sobre o seu dia a dia. Este processo foi muito bem sucedido. Segundo as/os alunas/os, professoras/es e pais, resultou numa redução dos casos de "bullying" (assédio) na turma, interações menos estereotipadas do ponto de vista do género, maior aproximação entre grupos da turma que não se relacionavam, e aumento da autoconfiança de muitas/os das/os jovens. Depois de finalizado o projeto, os resultados têm sido apresentados em outras escolas e também aí as reações têm sido de grande curiosidade e interesse.
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