Aldeia global
A Organização das Nações Unidas (ONU) informa que em 2050 a população mundial deverá chegar a nove bilhões de pessoas, cinqüenta por cento a mais do que a atual, numa conta redonda; mais gente nas cidades do que no campo, com provável aumento das favelas, que hoje já abrigam um sexto dos terráqueos.
O crescimento será maior na África e na Ásia, e os conflitos poderão aumentar se não houver um planejamento razoável, o que pode ser interpretado como metrópoles com, pelo menos, serviços básicos estendidos a todos.
Seguir as recomendações da ONU exigirá governantes com dom de administradores, competentes, profissionais. O desafio é gigantesco: manter o crescimento sem agredir mais o planeta, criar sempre mais empregos, assistir aos desempregados, porque nunca haverá pleno emprego, distribuir renda; tarefas que exigirão executores que falam menos e agem mais. Muito mais. Essencialmente, dirigentes com espírito altruísta.
O mundo moderno não seria o que é se os homens e mulheres que nos precederam não houvessem sonhado alto, ousado e lutado. No entanto, por mais visionários que possam ter sido pessoas como Da Vinci, Einstein, Marie Curie, é razoável supor que estavam longe de imaginar o grau de conforto de que se dispõe nos dias de hoje. Inversamente, não é difícil pensar nas dificuldades que nossos antepassados enfrentavam quando muitas das facilidades tecnológicas atuais inexistiam.
Não havia antibióticos, antiinflamatórios nem analgésicos, morria-se de uma simples apendicite. Nem é preciso pensar em comodidades mais elaboradas, como o telefone celular ou a televisão, pois sem luz elétrica, anestesia ou raios-X, qualquer acidente hoje trivial, quando não fatal, podia causar sofrimento atroz e duradouro.
Mas muitas dessas facilidades hoje indispensáveis, mesmo as mais básicas, não estão disponíveis para significativa parcela da população mundial, morre-se de doenças banais por falta de medicamentos, saneamento e alimentos, como no passado, embora não nas mesmas proporções, afinal, a Peste Negra eliminou algo como 75 milhões de pessoas quando a população mundial era muito menor. Neste quesito, mesmo com nossas eficientes guerras e limpezas étnicas ficamos muito aquém da Natureza.
Mas falávamos em bons gerentes para administrar nações e cidades. A projeção do economista Joseph Stiglitz, da Universidade de Columbia, para o custo total da guerra do Iraque até 2010, quando os americanos ainda deverão estar por lá, é de US$ 2 trilhões. Somem-se a isto os demais dispêndios com armamentos nucleares, escudos antimísseis e outras inutilidades e se terá uma idéia do tamanho do desperdício de recursos que poderiam reduzir substancialmente a miséria mundial e, conseqüentemente, aumentar a segurança dos povos. Essas cifras astronômicas mostram que o ditador Hugo Chávez, com sua loucura cada vez mais próxima do paroxismo, é um anão comparado a George Bush e seu vice Dick Cheney.
A ciência é depositária de nossas melhores esperanças. A nanotecnologia, a biotecnologia, a medicina especialmente a terapia com células-tronco - e outras especialidades poderão eliminar boa parte das ameaças presentes e vindouras, mas é preciso que possam ser estendidas a todos. Recursos, como se vê, não faltariam, basta que sejam bem empregados.
É tarefa quase sobre-humana encontrar pessoas adequadas para reger o destino de nossa aldeia global. Em vez de pensar que isto é uma utopia, antes de votar, convém refletir sobre tudo o que de bom e de ruim a humanidade herdou, evitar os messiânicos que propõem soluções perfeitas, os que tudo condenam e, principalmente, os que sempre se dizem acima de qualquer suspeita e aqueles que rejeitam ser investigados. O bom homem público fala pouco, trabalha muito e reage com serenidade a eventuais desconfianças sobre si ou a respeito dos demais.
Parece simples, reducionismo, e é. Tudo se resume à boa governança, dos povos e de nós mesmos, escolhas.
Luiz Leitão
http://detudoblogue.blogspot.com/
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