Eleições palestinianas: Tempo para reflectir

O resultado das eleições legislativas na Autoridade Palestiniana é inesperado por todos e indesejado por alguns. Contudo, num processo democrático, tem-se de aceitar os resultados porque são a vontade do povo numa expressão de escolha livre e justa.

A primeira reacção por alguns foi que a vitória do Hamas é uma vitória de terroristas e do terrorismo. Mas o que significa isso? Quantos outros grupos, facções ou personalidades fizeram a transição de actos de agressão para a prática de política pacífica depois de um grupo ou ideal ter passado a barreira?

Quantos dos que são rotulados de heróis hoje foram chamados terroristas ontem?

Uma reacção mais equilibrada seria que a vitória do Hamas significa que é altura para reflectir e para agir com responsabilidade – responsabilidade da parte do Hamas e responsabilidade da parte de Israel.

Se é ilegal o Hamas referir à necessidade da destruição de Israel (que refere na sua constituição mas não referiu durante a campanha eleitoral), também é ilegal para Israel ocupar terras que não lhe pertencem sob a lei internacional. Um Grande Israel, baseado em textos bíblicos escritos há cinco mil anos, tem a mesma validade como uma Grande Albânia, Grande Sérvia, Grande Lituânia ou qualquer outro sonho de grandeza e expansão baseado em qualquer noção que não seja o único foro vinculativo de lei internacional – a ONU.

Contudo, Hamas deve respeitar sua promessa a melhorar as vidas dos palestinianos e isso não envolve o seguimento de uma política que traz seu eleitorado em confronto com a comunidade internacional, ou isolamento desta. A vitória eleitoral num processo democrático vincula o Hamas a seguir as normas democráticas praticadas na comunidade das nações no mundo de hoje, nomeadamente respeito pelo direito internacional e adesão às normas em vigor.

Enquanto alguns estados insistem em quebrar estas normas (o acto ilegal de chacina perpetrado pelos Estados Unidos da América no Iraque é um belo exemplo), não quer dizer que tais quebras são legais e se Hamas cumprir as suas responsabilidades, então Israel ou faz o mesmo ou paga as consequências da sua arrogância e intransigência.

A vitória eleitoral de Hamas é um voto contra um processo de paz sem início nem fim, que só poderá iniciar quando Israel retirar para dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas – um acto que nem Tel Aviv, nem Washington, parecem estar preocupados a precipitar.

O voto a favor de Hamas é um voto contra a política de intransigência adoptada por Israel e apoiado por Washington. Se são feitas exigências sobre Hamas, no sentido que tem de obedecer as regras, então as mesmas exigências são válidas para Israel. Agora, ninguém pode voltar o relógio – o povo palestiniano acaba de votar para a vitória da sua causa por tornar a questão num processo democrático. A comunidade internacional irá insistir que este processo decorra até ao fim, mas sempre respeitando um processo pacífico e que obedece a todas as exigências impostas pela lei.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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