Mercosul: mudar ou morrer

SÃO PAULO - Daqui a pouco mais de três meses, em 26 de março de 2016, o Mercosul estará completando 25 anos de atividade e diante de um dilema: o bloco precisa passar a ser mais ágil em seus processos de abertura comercial; caso contrário, corre o risco de ser atropelado pelas mudanças que ocorrem no mundo em direção da formalização de mega-acordos e entrar numa fase de definhamento.

Milton Lourenço (*)

Não se pode deixar de reconhecer que o Mercosul representou um avanço nas trocas comerciais entre os países do Cone Sul e, hoje, representa mais de 70% da população e do Produto Interno Bruto (PIB) da região, com a entrada da Venezuela em 2013 e a adesão definitiva neste 2015 da Bolívia como membro pleno. Mas o bloco, por divergências internas, não conseguiu crescer tanto quanto deveria, permanecendo num isolamento que não tem contribuído para o desenvolvimento da América Latina.

É de se ressaltar que, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2014, estavam em vigor cerca de 400 acordos comerciais. Mas, desde a sua criação em 1991, o Mercosul só conseguiu fechar três acordos comerciais, todos de pouca significação em termos econômicos, com Israel, Egito e Autoridade Palestina.

Em 2005, insuflados por teorias que já eram anacrônicas àquele tempo, Brasil e Argentina conseguiram levar ao malogro as negociações propostas pelos EUA para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que garantiria a colocação de produtos agrícolas e manufaturados da região no maior mercado do planeta.

Também em relação a um acordo com a Apec (sigla em inglês de Asia-Pacific Economic Cooperation), fórum de 21 países-membros que procura promover o livre comércio e a cooperação econômica em toda a região da Ásia-Pacífico, o Mercosul sempre foi bastante reticente. Tampouco se aproximou muito da China, que sempre representou uma ameaça à política de reindustrialização de Brasil e Argentina. Por fim, em janeiro de 2015, a Argentina assinou um acordo com a China que acabou isolando o Brasil, pois os produtos manufaturados brasileiros passaram a perder mercado para os chineses no país vizinho.

O aparecimento em 2012 da Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru, fundadores, e Costa Rica, a partir de 2013) reviveu o debate sobre o futuro do Mercosul, pois o Uruguai aceitou entrar naquele bloco como país-observador, enquanto o Paraguai expressou seu interesse em seguir na mesma direção. Isso não quer dizer que esses sócios vão deixar o Mercosul, mas os governos de ambos os países têm reiterado um pedido de eliminação de barreiras não tarifárias, que, aparentemente, não é bem-visto por Brasil  e Argentina.

Fica agora a esperança de que a troca de ofertas com a União Europeia (UE) seja finalmente acordada, depois de negociações que se arrastam desde 1999. E que, com a eleição de Mauricio Macri para a presidência da Argentina, novos ventos soprem e venham a ajudar a tirar o Mercosul da atual situação de impasse.

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected]. Site: www.fiorde.com.br.

 

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