O Momento é sempre bom para comprar ações

O Momento é sempre bom para comprar ações. 15441.jpegAs ações podem estar caras para quem pensa no curto prazo ou baratas para quem olha para o longo prazo.

Vivemos num país cuja visão de curto prazo impera, só conseguimos pensar um pouco mais longe quando um fato palpável nos obriga, como foi o caso do último Pan-Americano ou serão a próxima Copa do Mundo e as Olimpíadas de 2016.

O mercado de ações brasileiro é novo, apesar de centenário, tendo se projetado com alguma importância maior apenas nos últimos 50 anos. Fatos como, a grande queda da bolsa nos anos 70, o regime militar, a hiperinflação, o confisco das poupanças, algumas crises mundiais e as várias tentativas de normalizar a nossa economia, serviram para traumatizar os investidores afastando-os das aplicações que não estivessem ao alcance da mão, no mais curto prazo possível.

Com todas estas experiências ruins, a visão clássica e mais segura para o investimento em ações, que é a de longo prazo, ficou prejudicada nestas ultimas décadas. Porém, dados históricos atestam que não só no Brasil como no resto do mundo, o retorno no longo prazo para o investimento em ações é quase sempre superior às outras aplicações. Mas certas premissas devem ser seguidas para garantir o sucesso destes investimentos.

O mercado de ações não é só para profissionais;

O mercado de ações não deve ser uma aposta;

O mercado de ações não deve possuir expectativas de curto prazo.

Analisando cada ponto acima, vamos para a primeira premissa:

Se o investidor optar por comprar ações de uma empresa, deve pesquisar no site da própria empresa ou no da BM&FBovespa e estudar seus fundamentos e mercado de atuação.Tendo um conhecimento mínimo de matemática e contabilidade, adicione alguns estudos sobre a empresa, disponíveis na corretora de sua escolha, e uma boa pitada de bom senso dará o toque final. E você não precisa ser profissional de mercado para isto.

Se você não possuir os instrumentos mínimos ou tempo para análises, vá até uma gestora de recursos do seu conhecimento ou do conhecimento de alguém de sua confiança. Recomendo as gestoras independentes ou Clubes de Investimentos ao invés dos Fundos de Ações de grandes bancos. Considero fundamental o acesso aos  gestores responsáveis pelos seus recursos, o que é praticamente impossível nas grandes instituições.

Segunda premissa:

O investidor tem uma informação distorcida do mercado de ações. Ele é visto como um "cassino", "roleta" ou "loteria", apesar de ser, na minha opinião, uma das formas mais transparentes de investimento disponíveis no mercado financeiro. Uma ação é a melhor expressão da lei da oferta e da procura, e inúmeros estudos sérios são feitos sobre o mercado de ações mostrando a possibilidade de ganhos reais e formação de fortuna no longo prazo. É claro que existe a possibilidade do ganho de curto prazo, que ao meu ver, são originados por pequenas distorções nos movimentos de longo prazo.

Trabalhos merecedores e ganhadores de vários prêmios mostram o quão técnico é o mercado de ações, e quanto mais tempo conseguirmos dedicar aos estudos, mais chances de sucesso surgirão.

Terceira premissa:

Se analisarmos o Ibovespa desde o inicio de 2006 até o final de maio de 2011, englobando neste intervalo a última crise financeira mundial, sua rentabilidade foi de 93% enquanto o CDI alcançou 82%. Se olharmos neste mesmo período uma carteira de ações formada por boas pagadoras de dividendos(Coelce, Tietê, Cemig, Transmissão Paulista, CPFL, Telesp e Souza Cruz), com "pay out"  mínimo de 50%, a rentabilidade desta carteira chega a 223%.

Considerando o período de 1995 até 2010, com uma inflação medida pelo IPCA de 213% e o CDI variando 1.796%, o Ibovespa valorizou 1.512%. Neste mesmo período, a rentabilidade das ações de algumas empresas foi: Tietê, 3.821%, Vale, 5.592%, Ambev, 5.551%, Petrobrás, 4.953% e Souza Cruz, 10.113%, dentre outras.

Gostaria de bater na mesma tecla, insistindo que o investimento em ações deve ser estudado e direcionado para empresas pagadoras de altos dividendos, com sólidos fundamentos e principalmente, com visão de longo prazo.

Lembrando que rentabilidade passada não garante rentabilidade futura, mas pode mostrar que fundamentos e dividendos ajudam a valorizar o seu patrimônio.

 

Fernando Leitão da Cunha, autor do livro Viva de Dividendos, é diretor de renda variável da Hoya Corretora de Valores e Câmbio

 

Originalmente publicado no jornal Valor, em 15 de agosto de 2011

 

 

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