Na ONU, Irã fala em diálogo nuclear, ironiza Israel e desafia os Estados Unidos para "guerra sem limite"
Por ANTONIO CARLOS LACERDA
Correspondente Internacional
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (Pravda Ru) - O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, voltou a ameaçar o mundo com uma guerra nuclear sem limites ao discursar na Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Yorque, nos Estados Unidos, nesta terça-feira, 21/09/2010.
Entretanto, horas antes dessa declaração do presidente iraniano, feita na ONU, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, em Teerã, no Irã, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Iraniano, Ramin Mehmanparast, tinha dito que o governo do seu País está pronto para conversar com as potências mundiais no futuro próximo sobre seu programa nuclear.
"Sobre as conversas com o 5+1, o presidente Mahmoud Ahmadinejad já deu visões francas, e em princípio nós estamos prontos para isso", disse o porta-voz, referindo-se ao diálogo entre o Irã e os países membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China, mais a Alemanha).
Entretanto, certamente temendo um bombardeio aéreo, seguido de uma invasão terrestre do Irã por tropas militares israelenses e americanas que, segundo o chefe do Estado Maior das Forças Armadas dos Estados Unidos, almirante Mike Mullen, já teriam um plano de ataque a Teerã pronto para ser executado, Mahmud Ahmadinejad disse que um ataque contra a infraestrutura nuclear iraniana seria o início a uma guerra "sem limites".
A declaração do iraniano foi dada a jornalistas e diretores de jornais e emissoras de rádio e TV dos Estados Unidos, em Nova Iorque, quando da realização da Assembléia Geral da ONU, nesta terça-feira, 21/09/2010. Na ocasião, Ahmadinejad disse ainda que o Holocausto, que ele chegou a negar, foi exagerado "como um pretexto para a guerra".
"Os Estados Unidos não entendem como é a guerra. Quando uma guerra começa, não há limites", afirmou o presidente iraniano, respondendo a um repórter que indagou qual seria a sua reação a um eventual ataque israelense apoiado pelos EUA contra instalações nucleares.
"Os EUA nunca entraram em uma guerra séria, e nunca foram vitoriosos. Para começar, você acha que alguém vai atacar o Irã?. Eu realmente acho que não. O regime sionista é uma entidade muito pequena no mapa, ao ponto de sequer representar um fator em nossa equação", provocou o iraniano Mahmud Ahmadinejad.
O Conselho de Segurança da ONU já impôs quatro séries de sanções contra o Irã em represália a seu programa nuclear, e os Estados Unidos e seus aliados pedem a aplicação estrita destas medidas.
Os poderes ocidentais acusam o Irã de tentar fabricar uma bomba atômica, mas Ahmadinejad, que está em Nova Yorque para participar da Assembléia Geral da ONU e de uma cúpula contra a pobreza e a fome, nega categoricamente essa acusação.
Ahmadinejad afirmou estar pronto para discutir a questão nuclear com o presidente americano, Barack Obama, mas ressaltou que "a perspectiva toda precisa mudar", mas as sanções da ONU teriam prejudicado as chances de uma melhora nas relações entre os Estados Unidos e o Irã.
Mais uma vez, o presidente iraniano foi questionado a respeito da morte de milhões de judeus em campos de concentração do regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Ahmadinejad, que em várias ocasiões negou a existência do Holocausto nazista, afirmou desta vez que o genocídio foi "um evento histórico usado para criar um pretexto para a guerra".
O iraniano disse:"A questão é: por que não deixamos este tema para ser examinado depois? (...) É incorreto forçar apenas uma visão para o resto do mundo. Precisamos perguntar onde este evento ocorreu, e por que o povo palestino deve continuar a sofrer por causa disso? Não sou antissemita. Sou antissionista".
Mahmud Ahmadinejad negou que o movimento de oposição no Irã esteja sendo perseguido. "Aqueles indivíduos não têm problemas ou dificuldades. São todos livres de fato", enfatizou o iraniano.
O discurso de Ahmadinejad na cúpula da ONU para os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio foi considerado por jornalistas presentes ao evento como caótico, com o iraniano culpando o capitalismo pelos males do mundo.
Entretanto, ninguém, à exceção do próprio Mahmud Ahmadinejad e dos membros de sua delegação, parece ter realmente entendido o que ele dizia, devido problemas com a tradução simultânea do discurso.
Ahmadinejad interrompeu sua fala por um minuto para reclamar da tradução simultânea, mas retomou ao discurso. Ao final, os intérpretes da ONU admitiram que não estavam acompanhando o que o presidente iraniano dizia, apenas "lendo um texto traduzido" de sua fala.
A ONU alegou que o farsi não é uma de suas línguas oficiais, e que, portanto, cabia ao Irã providenciar um tradutor oficial. A assembléia não estava cheia, mas as delegações ocidentais não boicotaram a intervenção como em outros anos.
ANTONIO CARLOS LACERDA é Correspondente Internacional do Pravda Ru no Brasil. E-mail:- [email protected]
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