Israel comete ato de guerra contra o mundo

As crianças continuam a morrer em Gaza e constituem um terço das vítimas. Em todos os ataques de Israel aos palestinos, elas parecem constituir os alvos preferenciais – como nas operações Chuva de Verão e Nuvens de Outono, em junho e novembro de 2006, quando foram mortos 405 palestinos, entre eles 112 crianças. Ontem, um caminhão das Nações Unidas, que levava ajuda humanitária aos sitiados, foi atingido pelas armas de Israel, e seu motorista morreu, o que levou a ONU a suspender as operações de socorro.


O porta-voz da organização desmentiu a versão israelita de que nas escolas atingidas pelos ataques dos últimos dias se homiziavam militantes do Hamas. Ao atacar as escolas e o caminhão das Nações Unidas, o Exército de Israel cometeu ato de guerra contra o mundo. Pela primeira vez, ao que se sabe, um Estado constituído comete ato de agressão contra as nações reunidas pela Carta de São Francisco, além de violar repetidamente suas resoluções e as Convenções de Genebra, conforme denuncia a Cruz Vermelha Internacional. Segundo seu primeiro-ministro, Israel não se preocupa com public relations.

Quando os soviéticos ocuparam os campos de concentração poloneses e revelaram ao mundo a brutalidade dos nazistas, todos os meios de comunicação cuidaram de mostrar a horrenda realidade da `solução final`. A comoção internacional diante dos relatos dos sobreviventes – que em nada exageravam – favoreceu o movimento pela oficialização do Estado de Israel.

Durante os anos seguintes, a violência do Exército de Israel contra os palestinos foi piedosamente tolerada: afinal, os judeus haviam sido dizimados nas câmaras de gás, submetidos a experiências genéticas pelos mengeles nazistas, obrigados a conduzir aos fornos crematórios os corpos de seus próprios familiares. O mundo não meditou que os palestinos não haviam inventado o nazismo, nem sido os algozes do Holocausto. Apesar disso, é sobre eles que recai o ódio e o terrorismo do Estado de Israel. Afinal, é mais fácil dizimar palestinos do que alemães.


Como todos os povos do mundo, os judeus têm direito às suas esperanças, suas crenças e sua sobrevivência histórica. Seria bom que, como tantos outros povos, se amalgamassem com a Humanidade como um todo. Não há povos biologicamente ou culturalmente puros. A pluralidade genética dos judeus é confirmada por inúmeros estudos, e as diversas seitas religiosas confirmam que há muitas formas de reverenciar Jeová e os profetas. O povo judeu não é responsável pelo sionismo, nem pelos rumos do Estado de Israel.


Já em 1948, a direita do novo Estado, quase toda procedente dos países eslavos, e conduzida pelo ímpeto da memória dos pogroms, tinha como objetivo a limpeza étnica da Palestina (conforme a análise fundada do professor Ilan Pappe, da Universidade de Haifa, em seu livro The ethnic cleansing of Palestine). Trata-se de conhecido autor judeu, o que nos mostra que nem tudo está perdido. O problema maior é que, conforme o grande sábio hebreu Yeshayahu Leibowitz, todos os Estados têm seu Exército, mas Israel é um Exército que tem o seu Estado.


Naqueles meses iniciais da ocupação da Palestina, os recém-chegados estabeleceram seu plano de genocídio. Sendo, então, pouco mais de 20% dos habitantes, ocuparam 80% do território, expulsaram seus habitantes. Destruíram 400 aldeias e 11 cidades além de desalojarem, para acampamentos no deserto, mais de 750 mil palestinos.


A cada nova operação militar de Israel, desde o massacre de Sabra e Chatila, em 1982, morrem sempre mais crianças. O que tem impedido a consumação do extermínio é a alta natalidade entre os palestinos, sempre registrada em comunidades ameaçadas de extinção.


Os dirigentes de Israel desafiam, com arrogância e desprezo, a opinião pública mundial, e proíbem que jornalistas estrangeiros documentem seus crimes de guerra. É provável uma trégua efêmera, a fim de que se reorganizem, re-elaborem seus planos e voltem a atacar, sob qualquer argumento. Durante todo o ano passado, até o início da agressão recente, no dia 27 de dezembro, os foguetinhos do Hamas não haviam provocado uma só morte em Israel. E, de acordo com Richard Falk, relator especial da ONU sobre o conflito (a quem Israel negou entrada em seu território), há 18 meses que a atual operação vinha sendo preparada, com o bloqueio econômico e os assassinatos seletivos.


Mauro Santayana (jornalista)
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Fonte: Jornal do Brasil (09/01/09).

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