Silas Correa Leite: O Muro

MURO

"Fazendo moldes de meu rosto e corpo, dou a mim mesmo a oportunidade de ver esse EU deixar a prisão" - (Marc Quinn)

  

-Nós mesmos construímos os nossos próprios MUROS. Grandiosos, bonitos, com grifes, cheios de pompas, com variados enfeites chamativos. Somos reféns do nosso ego doentio, da vaidade boba, do domínio insano. Posses, status, comodidade. Como os animais silvestres da natureza-mãe que, em jaulas falsamente se sentem seguros, não precisam mais exercitar a caça nem o extrativismo da cadeia alimentar, e assim, com rações equilibradas amordaçam sentimentos, deletam sensibilidades, se acomodam e, pior: perdem o sentido do olfato, da visão, da criatividade espiritual até, do equilíbrio... e da sobrevivência pura e essencial.

-Nós construímos nossos próprios muros. Posses às vezes são algemas circunstanciais, diplomas podem ser cadeados sem chaves, estabilidades econômicas custam caro e nos dão a viseira burra do malfeito que achamos perfeito e acabado. A paz do NADA. A franquia do inócuo. A reprodução do sistema - e das injustiças amorais do sistema. A tranquilidade para o enfarte. O comodismo da neurose. A segurança dúbia que interiormente nos trama o aneurisma, a esclerose, o esquecimento, a insanidade...a decadência total.

  

-Nós construímos nossos próprios muros. O controle remoto da solidão-cangalha, o cartão de crédito da gastrite crônica, a senha dos calmantes com efeitos colaterais, as câmeras de segurança ilegais e o código da sobrevivência trivial entre amebas de colarinho sujo que se fazem de PHDeuses, mas, na verdade também são do mesmo covil viciado, e estão sempre na mesmice ajeitada por dólmãs-de-tala que cortam jacintos da alma humana - que já nem mais respira luz, mas submerge num esoterismo tantã entrelameado de sargaços.

-Nós construímos nossos próprios muros. A mediocridade godê. O talismã da mentira. A jaula secreta do Lexotam, a overdose midiática de zeros à esquerda. O papo aranha sobre nadas e ninguéns, a novelinha chula e suja, o sexismo enrustido, o cheque ouro do banco ladrão, e o avant-première do chiste ridículo, boçal, mais o conjunto de tiques nervosos sublimando psicoses e surtos de egocentrismos verbais.

-Nós construímos nossos próprios muros. As parábolas financeiras dos crimes organizados (tachados suspeitamente de lei de mercado, oferta e procura e outros engodos históricos.) As paródias sociais nas rodas de fofocas e clínicas de recuperação de um Deus para todos os gostos (rasos, reles), os grã-finos com lepra nodal, a perda do senso de responsabilidade e da noção do ridículo. Somos mesmo, como diz a balada antiga do Raulzito, "metamorfoses ambulantes" com etiquetas transgênicas e variados abismos transversais.

-Nós construímos nossos próprios muros. A amante crisálida. A droga disfarçada de remédio. A fuga pervertida para o labirinto baixo do entretenimento decadente; o pedido de socorro às neuras - em livrecos de autoajuda escritos por sapos chulés. Somos o cavalo da passeata, abanando o rabo garboso para as aparências que enganam, feito manés em campos de joio com corvos e totens...

-Nós construímos nossos próprios muros. Beijamos a mão da Síndica, pedimos perdão ao São Guarda Noturno, ajoelhamos para terreiros de lazarentos, oramos para o FMI e seu roubismo etiquetado por agiotas internacionais, e ainda fazemos promessas para engodos de percursos revisitados, açodados que somos pela consciência pesada... Quem nos salvará de nós, ou de sermos iguais à maioria de jecas tatus, feito gado vacum no curral das mediocridades? Ou somos galinhas...que ciscam aparências rastaqueras, retrógradas? Perdemos a vergonha...

  

-Nós construímos nossos próprios muros. E um deles é epidérmico, outro é neural, e em todos nos acomodamos fáceis e manietados por simplismos de ocasião. Um muro é socioeconômico, pois a inflação é um embuste. A América Bush-Cloaca é um blefe. O Brasil é um cassino de cartas marcadas, em jogos de azar, bancados pelo capitalhordismo americanalhado de máfias e quadrilhas, entre abutres que se valem de falsos papéis de mercado (neoliberalismo globalizando a miséria) entre moedas podres na redoma de cartéis e oligarquias...

-Nós construímos os muros.

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-Isso é uma gravação. Cópia dessa mensagem será deixada na cápsula fotonutriente (de gás butano - de uma nave ultragalaxial a ser lançada - para uma viagem até o final do século trinta, provando a existência de água e vida animal na terra.)

-Antes que venham os humanoides primitivos, e junto com eles os silvícolas (os outros) com seus escravos tribais, e cruzem de novo uma nova (outra) tentativa - o recomeço! o recomeço! - visando um novo céu e uma nova água, fonte de toda vida. Fonte de TODA VIDA e de todo câncer da vida: nosotros, nós mesmos, os muristas, os construtores do muro nosso de cada dia, a partir da descoberta do fogo, da invenção da roda, do limbo do lucro-fóssil, da escrita cuneiforme...

(END)

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Poeta Prof. Silas Corrêa Leite

Texto da Série "Vida, Civilização, Ensaios e Bravatas"

  

Silas Corrêa Leite - Breve bibliografia, Resumo 2019

Educador, ciberpoeta, Jornalista Comunitário, blogueiro premiado, Conselheiro diplomado em Direitos Humanos. Consta em quase 800 sites como Estadão, Noblat, Correio do Brasil, Usina de Letras, Daniel Pizza, Wikipédia, Observatório de Imprensa, Releituras, Cronópios, Aprendiz, Pedagogo Brasil, Jornal de Poesia, Convívio e LibeArti, Itália, Storm Magazine e InComunidade (Portugal), Brasil com Z (Espanha), Politica Y Actualidad (Argentina), Poetas del Mundo (Chile), Fênix (Moçambique), Literatas (Angola), Pravda (Rússia) outros. Publicado em mais de 100 antologias, até no exterior, como Antologia Multilingue de Letteratura Contemporânea, Trento, Itália; Cristhmas Anthology, Ohio, EUA e na Revista Poesia Sempre/Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro (Ano 2000/Gestão Ivan Junqueira).  Autor de TIBETE, De quando você não quiser ser gente, romance, Editora Jaguatirica, RJ; GOTO, A lenda do Reino do Barqueiro Noturno do rio Itararé, Romance, Editora Clube de Autores, SC, e Gute Gute, Barriga Experimental de Repertório, Romance, Editora Autografia, RJ, entre outros. Prêmio Lygia Fagundes Telles Para Professor Escritor, Governo do Estado de SP/Gestão Chalita; Prêmio Biblioteca Mário de Andrade, SP, Secretária Municipal de Educação Marilena Chauí; Prêmio Literal, Fundação Petrobrás, Curadoria Heloisa Buarque de Hollanda, Prêmio Ficções Simetria (microcontos) e Prêmio Instituto Piaget, Cancioneiro infanto-juvenil, ambos em Portugal, entre outros.

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