A democracia brasileira não é, ainda, lá muito digna do nome, quando o eleitorado olha o panorama à sua volta e vê os mesmos candidatos de sempre, a rejeição liminar à realização de prévias nos partidos o PT contrariando o artigo 135 do próprio estatuto, feito letra morta pela vontade imperial de Lula.
O PSDB não deixa por menos ao tirar do nada a conclusão de que seu mais apto candidato à presidência será o governador José Serra e ponto final. Mas aceita de muitíssimo bom grado o nome de seu colega mineiro Aécio Neves para o papel coadjuvante de vice-presidente, uma oportunista deferência da qual o neto de Tancredo Neves declina sem pensar duas vezes.
José Serra pode ter lá seus bons números nas ainda longínquas, e por isso mesmo, volúveis, intenções de voto, mas muita gente haverá de lembrar-se, na hora certa, que o governador paulista foi um entusiasmado defensor da malsinada PEC do Calote, que deixa a ver navios o nada desprezível contingente de credores dos governos.
E os paulistanos, em especial, haverão de debitar ao governador a sua indignação com os abusivos aumentos do IPTU impostos por sua cria política, o outrora desconhecido prefeito Gilberto Kassab (DEM), que do semi-anonimato talvez nunca tivesse emergido, não houvesse José Serra quebrado sua promessa, registrada em cartório, de cumprir integralmente o mandato que almejava, e obteve, de prefeito da capital; no final das contas mero trampolim para a também vitoriosa candidatura a governador do Estado.
Um eventual embate Serra-Dilma seria talvez tão maçante quanto um discurso do coronel Hugo Chávez.
É nesse ponto que o observador isento, alheio a regionalismos tolos, lançaria a questão: Por que não o contrário, inverter a equação, surpreendendo o adversário adotando os tucanos a almejada chapa puro-sangue, porém com Aécio a cavaleiro?
Anticorpos contra a tola pecha de privatista o moço das alterosas os criou ao reforçar a Cemig, ao contrário de Serra, que vendeu a Nossa Caixa ao Banco do Brasil. Os caciques do PSDB tampouco enxergam que Aécio não causaria aos mercados os calafrios que as críticas infundadas, cansativamente contumazes de Serra à condução da política econômica proporcionam.
Enfim, nessa nossa democracia relativa, quando três grandes partidos PT, DEM e PSDB se insurgem contra as normas saneadoras impostas pelo Tribunal Superior Eleitoral, com a cumplicidade tácita embutida no obsequioso silêncio das demais agremiações, a Justiça Eleitoral que fique esperta, decuplicando o escrutínio das contas de campanha.
E o eleitor, por um lado obrigado a votar, não está impedido de anular seu voto, se achar que nenhum dos futuros candidatos a presidente, deputado, senador, é digno da sua confiança o bastante para representá-lo - no sentido que a verdadeira democracia confere ao termo.
Luiz Leitão é jornalista Mtb 57952SP
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