O Papão português de Fortaleza

1968 - Vítima de um ataque cardíaco faleceu, em Fortaleza, o cidadão Manuel Batista Pereira, português de nascimento, "mas brasileiro e cearense de coração", como gostava de dizer, garçom por profissão e mais conhecido na Praça do Ferreira pela alcunha de Papão.

Era um dos tipos populares que faleceu gozando da aposentaria custeada por um grupo de amigos, pois nunca foi de acreditar "nessa história de previdência social". Não se sabe bem de onde advém a alcunha de Papão, muitos acreditam que é oriunda de suas convicções políticas, pois pertenceu a um grupo anarquista. Por causa de suas idéias e das lutas que teve na Península Ibérica, foi deportado para o Brasil. Na revolução de 1935, ele foi recolhido a uma prisão militar.

E teve a oportunidade de conhecer Graciliano Ramos. Quando foi anunciado o lançamento de Memórias do Cárcere, Papão ficou indo às livrarias da cidade para comprar o livro. E quando leu teve uma grande decepção: Graciliano a ele se referia como "o português impertinente, que de manhã cedo, cantava de galo, acordando os que dormiam", Papão nunca perdoou Graciliano.

Jornal O POVO

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