Solidário com a luta dos professores em defesa da escola pública
Nós, um grupo de pais, resolvemos organizar-nos como movimento com o objectivo de intervir nas questões ligadas ao ensino e à educação em Portugal. Defendemos que a obrigação do Estado é apostar no ensino público. E que esse ensino público não serve para entreter as crianças enquanto os pais trabalham de manhã à noite. O ensino público deve ser exigente, de modo que o aluno aprenda e domine várias áreas do conhecimento, porque só o domínio do conhecimento lhe permite desenvolver a autonomia, o espírito crítico e a confiança.
Para tal, é necessário que ao aluno seja exigido o cumprimento de regras e que seja obrigado a estudar para passar de ano. A escola pública será melhor quando as condições físicas melhorarem e quando os professores e os funcionários tiverem melhores condições de trabalho. Apercebemo-nos de que muito do que funciona nas escolas se deve à pressão exercida sobre quem lá trabalha: professores que também são pais, psicólogos, assistentes sociais, sociólogos, mediadores familiares; auxiliares da acção educativa que acompanham alunos deficientes, mudando-lhe as fraldas ou dando-lhes de comer, porque o Ministério da Educação não coloca pessoal especializado para cuidar deles.
As medidas que têm sido tomadas pelas últimas equipas ministeriais vão contra aquilo que defendemos e têm feito com que o ensino público se tenha vindo a degradar nestes últimos anos. Para exemplificar:
1- Aulas de substituição. Parece-nos muito bem que quando os nossos filhos não têm uma determinada aula, lhes seja dada outra para a substituir. Mas, como tem isto funcionado nas escolas? Quando um professor falta, vem outro de uma disciplina qualquer «entreter» os nossos filhos, em vez de vir um professor da disciplina dar a matéria que estava planeada. E a responsabilidade é de quem? Não dos professores, nem dos executivos das escolas. É do Ministério da Educação, que não criou uma bolsa de professores para fazer as substituições. Deve ser criada uma bolsa de professores especializados, como noutros países europeus, para ministrarem essas aulas.
2- O ambiente nas escolas. A degradação do ambiente nas escolas deve-se muito ao desgaste e desautorização dos professores, que passam mais tempo em aulas de substituição, reuniões e papeladas do que a ensinar. Aos alunos mal comportados nada se pode fazer, e eles continuam a perturbar o trabalho dos professores e a prejudicar a aprendizagem dos colegas.
Ensino especial. Em nome da escola inclusiva, esta equipa ministerial pretende acabar com este tipo de ensino, incorporando crianças portadoras de deficiência profunda em turmas com 28 ou 29 alunos, sem garantia de que irão ser acompanhados por professores especializados neste tipo de deficiências. Assim não se inclui: prejudicam-se uns e outros; em nome da «inclusão», gera-se na realidade mais exclusão.
3- Ensino artístico. As escolas deste tipo de ensino vão ser encerradas. Porquê? Não se entende. Estas escolas têm sucesso, os alunos são motivados, os professores dedicados. Mas parece que o Estado está mais interessado em facilitar a vida a outro tipo de «artistas».
4 - Escola a tempo inteiro. Para dar resposta a uma sociedade em que cada vez se trabalha mais horas, o Ministério da Educação tem vindo a alargar o horário das escolas. Resultado: as crianças portuguesas passam entre 8 e 11 horas na escola, sempre vigiadas e orientadas por um adulto, e sempre com actividades e tarefas bem definidas. Ou seja, actualmente, estas crianças não têm tempo para correr, brincar, saltar à corda, trepar às árvores não têm tempo para ser crianças. Os resultados previsíveis serão adolescentes/adultos obesos, hiperactivos, frustrados e infantilizados. Juntamente com esta medida, e paradoxalmente, introduz-se o conceito de «aprender a brincar». Deste modo, as crianças estão na sala de aula não para aprender mas para brincar. E ficam na escola, após as aulas, não para brincar mas para aprender. Ora não é isto que queremos. Na nossa escola, aprende-se nas aulas e brinca-se no recreio.
A escola é nossa.
Nós, pais, temos uma palavra a dizer sobre a escola pública, a nossa escola, aquela para que pagamos impostos. Não para avaliar os professores ou para nos substituirmos aos professores. Mas para decidirmos o que queremos e o que não queremos desta escola que é nossa. A coberto de umas quantas teorias pedagógicas «modernaças» e supostamente muito «politicamente correctas», aquilo a que vimos assistindo é à degradação da escola pública.
A continuar assim, teremos uma escola transformada numa espécie de creche para crianças mais velhas, onde os nossos filhos talvez estejam «entretidos» e «debaixo de olho», mas não aprendem. Resultado: quem puder pagar inscreve-os em escolas privadas onde se aprenda a sério, se avaliem os resultados, haja disciplina, se estude nas aulas e se brinque no recreio.
A escola pública, degradada, fica como uma espécie de depósito para os mais pobres.
Isto não é um pesadelo, nem um «erro»: é a lógica de funcionamento de uma sociedade que acha só precisar de umas quantas cabeças pensantes e de uma multidão de gente mal qualificada que no futuro lhes sirva de criados.
Pelo Movimento: Sandra Duarte e Raquel Varela. Contacto [email protected]
António Paço (jornalista, pai de 2 filhos)
Filipa Lopes, Psicóloga
Maria Carolina Cardeira V., investigadora (avó de 4 netos)
Raquel Varela, investigadora História Contemporânea/ISCTE (mãe de 2 filhos)
Renato Teixeira, Jornalista
Rui Borges, físico, investigador na Faculdade de Ciências de Lisboa (pai de 1 filho)
Sandra Duarte, professora de matemática (mãe de 1 filho)
Sandra Pires (engenheira agrónoma, mãe de 2 filhos)
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