Em águas revoltas

O bom navegante revela-se nas tempestades, e parece ter chegado a hora de o presidente Lula e sua equipe mostrarem se estão devidamente adestrados para singrar mares por eles nunca dantes navegados.

A bonança costuma disfarçar a incompetência, embora as credenciais técnicas e, principalmente, éticas de parte dos seus auxiliares tenham sempre estado à vista de todos quantos tenham um mínimo de discernimento e interesse pelas questões nacionais.

A cornucópia de ajudantes presidenciais abriga gente de naipes variados, desde os meramente incompetentes, como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, até os líricos, cujo expoente máximo é o ministro Roberto Mangabeira Unger, da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, este exótico filósofo que pregou a transposição das águas amazônicas para o Nordeste, e seu subordinado Márcio Pochmann, inventor da tese de redução do desemprego por meio de um regime de trabalho de três horas diárias. Além, é claro, dos ministros e detentores de cargos nas empresas estatais das cotas dos partidos, donos de QI – quem indicou – privilegiado, dos quais o que menos se exige são conhecimentos técnicos e descortino.

O presságio da crise financeira mundial ainda subestimada por tantos quantos acreditam que o restante do mundo está vacinado contra a gripe da economia americana poderá, finalmente, deixar nu o rei acostumado a contar com sua proverbial e aparentemente infalível sorte; afinal, ninguém governa o tempo todo sob o signo da Fortuna.

É salutar, embora pouco digna de crédito, a enésima declaração do presidente Lula a respeito de sua disposição a não aumentar tributos e melhorar a arrecadação através do combate à sonegação. Mas convém registrar esta sua assertiva, cujo prazo de validade, todavia, não foi estipulado, deixando aberto o caminho para declarações debochadas do tipo das que o seu ministro da Fazenda fez no início deste ano – “a promessa de não aumentar tributos referia-se a 2007”.

A sabedoria chinesa ensina que crise é sinônimo de oportunidade; no caso, da demonstração das habilidades presidenciais no manejo do timão em mar tempestuoso. Empunhar – e usar - a tesoura não será tarefa fácil para alguém acostumado a ajustar o discurso ao gosto da platéia, e os compromissos assumidos por Lula com os partidos da base de “apoio” não poderão ser desfeitos, sob risco de ingovernabilidade.

Nessas condições, ao contrário de tantas promessas solenes e vãs, o que está feito segue imutável, e o País, agora sob o risco de aumento da inflação, redução do crescimento e apagão elétrico, talvez se torne mais difícil de administrar.

O rebuliço há muito não visto nos mercados financeiros mundiais, nesta segunda feira em que este artigo foi escrito, poderá, sim, afetar de maneira mais aguda o Brasil, porquanto ninguém conhece, ainda, a profundidade da crise.

Lula, que cedeu o comando do Ministério da Minas e Energia a um leigo, teve cinco anos para resguardar a País da ameaça de falta de energia, mas foi boicotado por sua então ministra das Minas e Energia, Dilma Roussef, que sabotou a autonomia da Agência Nacional de Energia Elétrica.

Estamos entediados e acostumados às declarações rasas do presidente Lula, às suas metáforas ligeiras, ao seu nivelar por baixo, e talvez por isso mesmo seja bom recordar as palavras de um estadista.

Em sua primeira ida à Câmara dos Comuns, em 13 de maio de 1940, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill teve uma recepção morna, enquanto Neville Chamberlain, que deixava aquele cargo, foi calorosamente aplaudido. Era o início da Segunda Guerra Mundial, e Churchill disse o que poucos ousariam dizer: Eu nada vos ofereço além de sangue, trabalho árduo, suor e lágrimas.

Luiz Leitão

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