O Partido Trabalhista do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, está sendo investigado acusado, inclusive, de obstrução do trabalho da polícia por contratos de empréstimo não-declarados no valor de US$ 25 milhões, que beneficiaram doze de seus membros. O premiê admitiu que generosos financiadores de campanha foram agraciados com nomeações para cargos públicos. Certamente considerando, como tantos e tantos outros, tal prática comum, disse não ter feito nada de errado.
Eis aí aquela convenção não-escrita, universalmente consagrada, que a maioria dos inquilinos de cargos eletivos subscreve sem pejo. Dela usam e abusam para pôr a ética entre parênteses, como fizeram vários integrantes do PSDB e de outros partidos na semana que passou. Luta-se pelo abstrato sim, porque o acaso, este grande adversário dos que têm tudo calculado, está sempre a postos e posterga-se o substantivo, o verdadeiro trabalho parlamentar de legislar em benefício dos representados.
No meio dessa substanciosa manifestação de desprezo pelo eleitorado alguns nomes sobressaíram, como os dos governadores tucanos de São Paulo, José Serra e de Minas Gerais, Aécio Neves. Os dois prováveis candidatos à sucessão de Lula da Silva, com a nobre intenção de obter em troca o apoio do Partido dos Trabalhadores nas eleições das Assembléias Legislativas de seus Estados, subscreveram a candidatura do petista Arlindo Chinaglia à presidência da Câmara dos Deputados.
Jogaram fora eles, o líder Jutahy Magalhães (PSDB-BA) e outros a oportunidade de defender o grupo de Fernando Gabeira (PV-RJ), que tem o mérito de haver conseguido no Supremo Tribunal Federal (STF) a anulação do aumento para quase o dobro dos subsídios dos parlamentares; preferiram, no lugar da voz do povo, que já haviam ouvido nas urnas, e basta, escutar (e servir) o PT. É muito pouco provável que o presidente da legenda, Tasso Jereissati (PSDB-CE), desconhecesse essas negociações porque seu homem de confiança, Bismarck Maia (PSDB-CE), foi nomeado secretário do governador do Ceará, Cid Gomes (PSD), aliadíssimo do PT.
Terão sido em boa medida cúplices se, eleito, Chinaglia puser em marcha o processo de anistia de dois insignes personagens do mensalão. É claro que até fevereiro tudo pode mudar, mas o episódio terá sido emblemático e profilático para o eleitorado, mais uma vez, ver quem é quem.
O PMDB, esse voraz comensal no rodízio do poder dentro dos Poderes, também cobra seu preço, participando do aparelhamento da máquina estatal, tentando garantir um lugar para o antigo czar da economia no BNDES, ou mantendo o feudo de Furnas. Ou quem sabe amanhã ou depois um naco daquelas autarquias a serem ressuscitadas, a Sudam e a Sudene. No Senado, a reeleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) são favas contadas, praticamente um referendo.
Tão simétrico é o comportamento dos congressistas que as várias siglas, quase todas niveladas, poderiam se fundir; praticamente já não existe mais oposição.
A prática comercial com emprego da moeda de troca política, que nada custa aos que dela fazem uso, cobra da Nação uma exorbitância quando as empresas e demais órgãos públicos são preenchidos por pessoas incapacitadas, quando não mal-intecionadas. Esse preço tão alto é pago à revelia por uma população que, incrédula, vê outros países crescendo a taxas muito mais altas.
Se o Brasil está emperrado enquanto países asiáticos - e pode-se mencionar o Vietnã para não repetir as sempre citadas China e Índia crescem a sete ou dez por cento ao ano, não é apenas pela crônica incapacidade deste e de todos os governos que o antecederam após a redemocratização, mas também e talvez principalmente pelos maus hábitos dos homens que fazem e desfazem a política.
Por causa dessa gente politicamente incorreta.
Luiz Leitao
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