Cuba perde dinheiro. Nosotros a vida
Jolivaldo Freitas
Claro que a ilha de Cuba vai perder mais de 1 bilhão de reais por ano com a saída dos seus profissionais do Programa Mais Médicos, prescrevida pelo nosso novo presidente e acelerada pelo ímpeto retaliador do governo cubano. Para saber, os médicos cubanos geram mais divisas que a exportação de charutos; bem mais que a venda do rum e de commodities. Será uma saída ("Saindo pela direita", como diria o personagem de desenho animado do século passado Leão da Montanha, de Hanna Barbera) dolorosa para os lados. Cuba perde seu negócio mais lucrativo e a o cidadão brasileiro perde na saúde.
Cuba arrecada com seus médicos espalhados pelo mundo mais de 11 bilhões de dólares por ano. A Organização Mundial do Comércio revela que é a grande sacada dos cubanos. Médico cubano é uma espécie de commodity. O acordo com o Brasil foi selado em 2013 por Dilma Rousseff, ex-presidente, que buscava assim suprir uma demanda que sempre preocupou o Brasil. As pequenas cidades, os municípios mais distantes dos centros mais ricos sempre sofreram com a carência de médicos. Na época o governo norte-americano criticou o Programa Mais Médicos. Agora foi o primeiro a elogiar a iniciativa de Bolsonaro., observando que o Brasil tomou posição com relação ao governo cubano. O governo norte-americano em seu comunicado cometeu um ato falho. Diz que os médicos de aluguel vivem no exterior em condições desumanas. Esqueceu que no Brasil boa parte dos cubanos atua em regiões onde não tem água potável, nem internet, nem luz elétrica e falta comida e medicamentos. Bolsonaro acrescentou: "vivem na escravidão". E criticou o fato de 75 por centro do salário do Programa Mais Médicos irem diretamente para as burras do governo cubano.
Ocorre que mesmo dando uma parcela maior do seu salário para o governo, os médicos que por aqui atuam ficam com uma parte que é muito maior que aquilo que seus compatriotas recebem na ilha. Por lá um médico recebe no máximo 150 reais mensais. No Brasil percebem perto de 3 mil reais por mês.
Mas, na realidade, o que trato aqui neste retângulo não é a questão da perda econômica de Cuba. É a perda para o Brasil. O governo diz que temos milhares de médicos prontos e esperando para assumir o lugar dos cubanos. Basta sair um que entra outro. Pode anotar que não vai dar certo. Anos passados pesquisas que levantavam a questão da falta de médicos nas cidades interioranas mostraram que a maioria absoluta dos médicos não quer ir morar no interior. Prefere o litoral. As cidades grandes. A presença de shoppings e outras comodidades. O médico prefere dar plantões exaustivos a colocar o pé da estrada. Por isso que atualmente dos 16 mil médicos que atuam no programa brasileiro mais da metade vem de Cuba.
Dou um exemplo do problema: há alguns anos fazendo campanha política para uma grande prefeitura baiana há mais de cinco horas de distância da capital, sugeri que fossem criados postos de saúde nos bairros. O prefeito candidato à reeleição providenciou e depois lançou edital para contratação de médicos. Só apareceram quatro recém-formados. Os postos ficaram às mínguas. E agora damos adeus a mais de oito mil médicos que se dispõem a até pegar malária para ajudar ao próximo. Que Hipócrates, Apolo, Asclépio, Higia e Panacea protejam os desassistidos.
Escritor e jornalista
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