Os inimigos do avanço civilizatório

Os inimigos do avanço civilizatório


Norbert Elias, sociólogo alemão, publicou, em 1939, o estudo clássico sobre as sociedades europeias: O Processo Civilizador (Zahar, 1993, 2 vol.). Nele busca demonstrar a marcha da sociedade, no sentido da liberdade e da igualdade, sem que haja um objetivo planejado, uma orientação de qualquer ordem.
por Pedro Augusto Pinho


Norbert Elias, sociólogo alemão, publicou, em 1939, o estudo clássico sobre as sociedades europeias: O Processo Civilizador (Zahar, 1993, 2 vol.). Nele busca demonstrar a marcha da sociedade, no sentido da liberdade e da igualdade, sem que haja um objetivo planejado, uma orientação de qualquer ordem.

Das oposições a esta marcha inexorável, o sociólogo francês Pierre Bourdieu nos apresentou, quarenta anos depois, "A Distinção" (La Distinction: critique sociale du jugement, 1979; edição em português, Editora Zouk, 2006), estudo da produção e consumo dos "bens culturais".

Vamos tratar da sociedade brasileira, buscando uma situação que provoca profundos problemas psicossociais, altamente prejudiciais para a sociedade e para o desenvolvimento individual e civilizatório: as relações parentais.

Um fenômeno para estudiosos da história, da evolução civilizatória, são as crises que ocorrem nos momentos dos pontos de deflexão. Nelas, na expressão de um internauta, há "pessoas que gozam com a opressão, dominação, exclusão, humilhação, sofrimento e negação da humanidade do outro".

O Brasil passa por este ponto.

De um lado, com apoio do corruptor sistema financeiro internacional (a banca), as mais inescrupulosas e autoritárias vozes, os inconformados com o fim da escravidão legal e da submissão feminina, usam instrumentos legais ou golpistas para retrocessos aos direitos já conquistados pela necessidade econômica e consignados na Constituição de 1988.

De outro, se constitui a maioria absoluta da população, já não tanto silenciosa, que enxerga e aplaude a evolução social, onde aqui destaco o caminho para igualdade entre mulheres e homens.

Mas há enorme preconceito a ser vencido. Vejamos o homem provedor.

De acordo com o estudo "Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil", divulgado em março/2018, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tomando por base a população de 25 anos ou mais de idade com ensino superior completo, em 2016, as mulheres somam 23,5%, e os homens, 20,7%.

Em relação aos rendimentos, por sexo, entre 2012 e 2016, as mulheres ganham, em média, 75% do que os homens ganham.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), analisando a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio - 2009 (PNAD) com dados do IBGE, conclui:

Entre 2001 e 2009, a proporção de famílias chefiadas por mulheres no Brasil subiu de aproximadamente 27% para 35% do total. São 21.933.180 o número de famílias que identificaram como principal responsável uma mulher.

Embora a mulher assuma, cada dia mais, a responsabilidade de manter a família, o homem ainda é visto como provedor. E, embora não haja estatísticas, este pseudo provedor está cada vez mais presente em sentenças de execução por falta da pensão de alimentos.

Mais de 80% das separações judiciais são de iniciativa das mulheres em consequência dos abusos contra si e seus filhos. E o crescimento deste número também mostra a independência econômica que elas estão obtendo.

Mas o machismo, incomodado com a Lei Maria da Penha, que vem penalizando e intimidando a violência doméstica, contra-ataca com um Projeto de Lei que já está sendo apelidado anti-Maria da Penha.

De autoria do Deputado do Partido Progressista (PP), Arnaldo Faria de Sá, que teve sua vida política apadrinhada por Paulo Maluf, também do PP, de quem foi Secretário assim como de seu sucessor, Celso Pitta, articulador, em São Paulo, de Fernando Collor, o PL 4488/2018, vem sendo combatido pela Deputada Federal Shéridan Oliveira, do PSDB.

A Deputada afirma que este projeto "traz mais prejuízo que benefício".

Verifica-se nestes últimos tempos, no Brasil, um número assustador de crianças assassinadas pelo pai. Quando das classes médias, o assunto ganha as páginas dos jornais, noticiário na televisão e comove a Nação.

São exemplos o do menino Bernardo Boldrini, de João Vitor e Igor Giovanni, vítimas de João Alexandre Rodrigues, o pai, em Ribeirão Pires (SP), da menina Jamilly Vitória Sousa da Silva, que chegou a ser levada para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, zona norte do Rio, mas já chegou sem vida. O pai da criança, Luiz Carlos Silva Santos, de 21 anos, e a madrasta Ynara de Souza Dionísio, de 19, foram presos em flagrante por policiais do Batalhão de Irajá (41ª DP).

E páginas envolvendo o pai, nenhum caso conhecido envolvendo a mãe.

E o que pretende o Deputado Sá? Criminalizar a mãe que venha defender seu filho de um pai psicopata ou com transtorno que leve a cometer violência contra a mulher e as crianças?

É um verdadeiro retrocesso civilizatório, próprio de uma sociedade em crise, que exige soluções interdisciplinares, terapêuticas e não penais.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoon

 

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