por Geraldo Duarte
Mês de julho, na cidade do Porto, alugamos carro e empreendemos viagem a Santiago de Compostela.
Quase na fronteira com a Espanha, chegamos ao Distrito de Viana do Castelo, Freguesia de Monserrate. Decidimos por visitar o lugar e fomos tomados de emoção a tudo o que se nos apresentou. Indescritíveis belezas urbanas. Logradouros ajardinados e prédios com fachadas em cores e sacadas floridas. Formas arquitetônicas antigas e modernas sem contrates aberrantes. Limpeza e silêncio impressionantes. Um emoldurado fascinante de cuidada natureza.
Na rua Manuel Espregueira, 37, encontramos a Pastelaria Cafetaria Natário. Grata surpresa. Ali, brasileiros são recepcionados alegremente. E, especialmente, dois de nossos compatriotas, mereceram homenagens e reconhecimentos inéditos. Da população e das autoridades.
Nos festejos anuais à padroeira local, Nossa Senhora da Agonia, Viana do Castelo recebia as visitas de um seu apaixonado admirador, tornado Cidadão Honorário, por título outorgado pela Câmara Municipal, e de sua amada mulher. Jorge Amado e Zélia Gattai. Os vianenses amam o par.
Manuel Nenes Natário, então proprietário da Confeitaria, fazia-lhes as honras da casa, conquistando grandiosa amizade. O casal fartava-se - no dizer de Jorge - com os inigualáveis sidónios, manjericos, tortas e biscoitos de Viana, rissóis, croquetes, folhados, empadas e, sobretudo, o enlevado pão-de-ló. Este, no dizer dele, o melhor do mundo, produzido pelo maior dos mestres confeiteiros.
Quem desejar conhecer, frequentar e deliciar-se com aquelas especiais guloseimas, há submeter-se a filas para o atendimento, dada a grande frequência diária dos moradores e visitantes.
Na entrada e salas, fotografias e caricaturas emolduradas do casal, mensagem elogiosa do romancista, escrita de próprio punho, enriquecem o renome daquela casa de pasto e encantam a clientela.
Fomos cortesmente recebidos por dois antigos funcionários, que nos asseveraram guardar a honra por haverem servido, naquelas mesas, a Jorge e Zélia. Os gentis senhores, Ivo Fonseca e Albino Vieira, guardiões das lembranças, tomaram-se pela emotividade, ao vivificarem felizes momentos, do século passado, quando Natário, Jorge e Zélia, felizes, encontravam-se naquele "Santuário da doceria portuguesa", parecendo crianças encantadas pelos doces.
Mais, ainda, curioso e interessante. A amizade entre Natário e Jorge fez-se tamanha e tão forte que o romancista, em sua última obra, publicada em 1988, Tocaia Grande: a Face Obscura, destacou o festejado doceiro português, como personagem: capitão Natário. Fiel escudeiro do coronel Boaventura. "Capitão de doces e salgados, comandante do pão-de-ló, mestre do bom comer." - como o descreve no livro.
Hoje, a Pastelaria Cafetaria Natário, fundada nos anos vinte do século passado, pertence ao filho José e a neta Regina. Continuam inigualáveis aquelas artes de uma segredada culinária familiar.
Como incontáveis e representativas as homenagens prestadas, neste centenário de nascimento do internacionalmente maior romancista regional brasileiro, dificilmente haveria assunto não abordado sobre a vida do imortal Amado.
Aleatoriamente, ao sabor da sorte, fomos levados ao local de grandes felicidades do casal, oferecendo condições para a feitura deste artigo de um admirador e ledor de quase toda a produção literária do itabunense, do grapiúna.
Atuais moradores do Oriente Eterno, recebam Jorge Amado, Zélia Gattai e Manuel Nenes Natário este singelo e merecido tributo.
Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista
Fonte: - Jornal da Cidade - Aracaju
http://www.colunaonline.com.br/coluna_ler.asp?id=7113
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