Adilson Roberto Gonçalves
Segundo os evangelhos, foi Jesus quem disse que a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. Seria uma resposta à obrigatoriedade de pagar impostos, uma vez que o imperador romano estampava as moedas em circulação à época. O escritor de ficção espanhol J. J. Benítez completou a frase em seu livro “Operação Cavalo de Troia”, de 1987, colocando um final na fala de Jesus: “e a mim o que é meu”.
Ficção e crenças à parte, a religião sempre foi algo ligado às questões mundanas, dinheiro aí incluído. O próprio termo de origem latina “religare” diz respeito à união entre dois mundos, o terreno e o divino. E o dinheiro parece ser o pedágio cobrado para atravessar de um a outro, feito Virgílio conduzindo Dante.
Pela inferência bíblica, Jesus condenava o dinheiro, o que não impediu que no Brasil escrevêssemos a crença em Deus nas cédulas de real e, nos Estados Unidos, no dólar está estampado “in god we trust” desde sempre.
E quanto custa a fé para quem crê? E quais são os novos cristãos (não, não falo de judeus) que se beneficiam da retirada do pecado do dinheiro? Antes pensávamos que os católicos respondiam pelos retrocessos no país, até vermos os evangélicos e sua quase teocracia aumentaram muito no país, ao menos até agora, em que passam a não mais crescer.
Assim são interessantes as considerações de pesquisadores que se debruçaram sobre os dados recentes mostrando a estagnação do crescimento de evangélicos no Brasil, apostando que não voltará a haver um avanço desse segmento cristão. O menor crescimento dos evangélicos também é função da saturação do modelo de entrega, dados os limites da teologia da prosperidade que pregam. Quando todos usam a religião como vetor econômico, alcança-se logo a frustração por verem o pastor enriquecendo e o povo continuando na miséria. O que é de César não é do povo.
Por fim, se somos menos de 1 milhão, vivo numa bolha, uma vez que muitos com quem convivo também são ateus. Não sei se convictos e praticantes como eu, mas sabem que o altruísmo é condição humana, não imposição divina. Sim, entendo e muito respeito a religiosidade de cada um, mas quando a crença coletiva se traduz em poder econômico e político, e o púlpito vira palanque, algo de muito errado acontece com a fé.
Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp – Rio Claro-SP
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